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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Troca de desilusões

12/4/2015 - São Roque - SP

Na obstinação por encontrar a realidade, imergi na desilusão do encontro. Todos os borros já experimentados nas lamentações de quem não aprende são doentiamente repetidos dia a dia. Não há Thorndike, tampouco sua lei do efeito. Não há repetição que faça adentrar no crânio a manipulação do inconsciente.

O pressentimento da quimera está na origem do atraso. Qualquer ser racionalmente previsor chega no mínimo um segundo atrasado nas precauções das paixões. Nos desenganos latentes de qualquer ameaça de palpitação e estremecer. Falta de controle sobre as próprias emoções, pois.

O augúrio é a incapacidade mais cobiçada. Prever a próxima previsão. Antecipar o futuro do que ainda nem aconteceu. De tudo, nada vai além de uma comuta interesseira. Um parasita que vive das energias das crenças. Do claustro das possibilidades imagéticas. Pura confecção fantasmagórica de enternecimento.

Das miragens mais impactantes, a que simula uma volta é o fatality das incompreensões. Visionária das lágrimas que ressecam. É então chegada a hora de trocar a pele. Vale qualquer soberania de dor para sucumbir a agonia da falta de verdade. Prever o erro da previsão.

Adicionando à biblioteca das inexistências, o vento que apaga é o mesmo que faz reacender. A ameaça de assimilação esvai-se à medida em que o fulgor retorna com o dissimulado pretexto da obstinação. A valia é sempre verdadeira depois da ilusão. O cérebro já é moldado a acreditar na segunda mentira, criando um juízo ilusório de veras no que nasceu desleal.

É tudo corrompível dirão os ortodoxos. Os passos são impressões causais de algo que é incapaz de deformar. Vivemos fisicamente dentro de uma bolha, afinal nada ocupa o mesmo lugar ao mesmo tempo. Jamais se saberá verdadeiramente o que é de fato sentir o outro. A verdade é essa linha tênue que perpetua e eterniza as distâncias intransponíveis dos corpos. Atingível e verossímil apenas na vontade de acreditar.

Embora se tenha conhecido o desconhecimento das trapaças ressurgentes dos contos de vida, não há maneira diferente de se manter no caminho. A música das venturas tem o poder de levar pela mão os corpos amotinados de miragens, acrescendo ao seu definhamento o sopro dos crédulos.

O escambo é a forma permanente de superação. A decepção que desvirgina uma sandice. A incredulidade que apazigua o desengano. O acerto dessa conta é a mudança cíclica, que acaba sempre morrendo na praia. Ajustam-se os meios para chegar sempre ao mesmo fim. Criam-se fins diferentes com os mesmos meios. O somatório é estático. A presunção é finita.

Procura-se alguém interessado nos estudos aprofundados da armadura do ocaso. No espelho das miragens. No reflexo dos avessos. Alguém preocupado em ler de trás para frente as páginas da vida, antecipando o fim.

Ainda assim, com a magistratura das cenas em mãos, mudar o trajeto do enredo resultará em nova caminhada. A estrada provoca esquecimento. Gera alienação do vento, escoamento das asas dos pássaros, existentes apenas para o intuito de transgredir e encantar. Aos poucos, as pernas retornam à lei natural das lamúrias. O último take será sempre uma lágrima arrependida pela transgressão e seca pelo novo capítulo dos erros.

 

THIANE ÁVILA.

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