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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

O verdadeiro é uma questão de opinião

29/6/2015 - São Roque - SP

Através da cortina ou do vidro da cozinha. Em consonância com as estações ou em despreparo total frente às sutilezas. Com a arrogância de não ser prepotente e com a audácia de querer ser pouco. De mãos dadas com a aquarela dada de presente em um dia de chuva.

Assim jogam-se fora as despretensões de ser forte, já que o que realmente é importante é o sentir-se forte. A verdade por trás das exigências não passa de uma subjetividade incorporada na ansiedade de ser. O que aparenta é persecutório, oriundo de uma subserviência digna de lixo. Prima-irmã dos ajustes de erros necessários.

Ao passo em que a fé caminha em sintonia com a saudade da notícia, vê-se que a novidade é tão somente um lapso, um esquecimento. Não que haja destino para narrar, no futuro, o futuro do passado, que, previsto, nunca será nem presente. A graça de viver está no esquecimento. Na rotina de cansar-se de saber de tudo em detrimento do saber de menos. Diverte-se mais quem ri das próprias misérias. 

Minha verdade encontra-se amparada no chão escorregadio e inconstante do movediço, a mover-se gentilmente rumo a uma segurança passageira. Breves momentos ilusórios de concretude.

Se não é possível controlar nem os pensamentos delirantes, quiçá manter as pernas cerradas no calcado piso frio das irrelevâncias manicomiais. Minha parede é a loucura que segrega padrões. Que desvenda imagens traçadas à transparência de pincéis imaginários. Tinta cor de ansiedade.

Ser livre é uma questão de privilégio da criação. Todos podem, mas nem todos o são. Quem me vê sorrindo desse jeito mal sabe a solidão esquecida no peito, a gesticular alienada por atenção do que jamais virá. A alma nem sempre entende as ausências que preenchem.

No balanço inconstante das retinas que acompanham o esplendor da falta de ritmo dos dias, enxerga-se opacamente a lucidez das memórias, que são o compasso eterno das compreensões, compreendidas ou não. Ao final, a arte sempre acontece. O melhor sempre vence. A força sempre aparece.

O que se entende por verdade é traduzido nos termos de cada existência. Existe, pois, uma poesia de diferença entre habitar e fazer parte. Entre amar e querer por perto. Entre imaginar e sonhar. As intensidades regulam as engrenagens tal como o vento determina a direção da proa. Em ambos os casos, a subjetividade da persistência trata-se tão somente da conjectura dos passos dados e de quem se escolhe para trilhá-los junto.

 

THIANE ÁVILA.

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