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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

A intensidade de desconhecer o que não é intenso

20/7/2015 - São Roque - SP

Vive-se em um mar turbulento e agitado de águas rasas e profundas. Ama-se da maneira que vier à mente, sem, muitas vezes, refletir a alma que grita por socorro, mas que tenta salvar-se no auxílio que, ao contrário, oferece. Não há maior agitação do que a turbulência de uma desordem silenciosa. De um grito preso ou de um choro perdido por entre os sentidos de ainda querer ser alguma coisa.

Já perdi, há muito tempo, a autonomia sobre as vozes que ressoam no peito. Sobre os pensamentos que invadem não apenas a mente, mas cada vértebra do corpo, personificando as sensações e emoldurando em parede de cera molhada a credibilidade de um momento de paz.

Mesmo não procurando respostas ou deixando de emitir algumas perguntas, as mesmas vozes ecoam por entre as frestas de qualquer coisa similar a um contrapeso, a uma tralha mal colocada. A mente parece-me, agora, uma caixa sem fundo, por onde perdem-se os lampejos de serenidade. Por onde ressurgem os monstros desconstruídos, sob formas mais grotescas e delirantes.

A loucura passa por períodos de hibernação e letargia, mas nunca se esquece de retornar quando a felicidade começa a fazer muito barulho. A intensidade torna-se uma imensurável medida de consternação, a abismar cada vez mais a trilha que divide o sossego da balburdia, o importante do indiferente.

Minhas malas parecem ser de vidro, carregadas com um cuidado fora do normal para fora de casa. Para a rua que amedronta e que faz ver o quão cruel tudo pode ser, mesmo que, na mesma esquina, a felicidade acene e pareça estar tão perto. A uma mente desconexa de distância.

Todos os monstros alimentados, todas as vestimentas inventadas, todos os sonhos adormecidos e todas as esperanças desgastadas. Às vezes penso se é mesmo possível dar continuidade à rotina da incompreensão, à vontade de querer fazer, mas sem o auxílio da própria existência. Uma espécie de confluência de tormentos que balançam, como um navio prestes a naufragar, os suportes do que se acredita poder realizar.

Passos e pensamentos desligados uns dos outros. Serenidade e vida desconexas em seus extremos essenciais. Partes, pois, de um jogo que não se completa pela falta de peças. Pela rebeldia de algo involuntário e, ao mesmo tempo, maleável. Felizes seríamos se houvesse um curso para lidar com a própria mente.

Na falta de caminho, o que resta é inventar. Na falta de criatividade, a esperança ainda é a de esperar. E se, no fim, nada resolver, que o consolo da vontade faça-se reinar, inaugurando, seja nesse ou em outro plano, o sentido tão esperado e o encaixe tão aguardado das coisas da mente: o suicídio que faça viver.

 

THIANE ÁVILA.

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