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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

O maior problema do mundo é meu

17/8/2015 - São Roque - SP

A dimensão de um problema mede-se apenas com a alma. Qualquer significado externo que lhe seja atribuído será falho. Todo o sofrimento é um prolongamento de uma existência, um deixar-se transbordar pelas imundícies ressequidas no escuro de um querer ser.

A desilusão do encontro, a rotina dos pretextos e o cansaço da persistência. Querer lutar pelo que se quer não é pecado, assim como desabar por um detalhe não é fraqueza. O meu problema será sempre o maior do mundo, pois está situado dentro de mim. Não preciso que me digam que é pequeno comparado à crise mundial. Eu sei que é. No entanto, respeitem o meu colapso. Não aplaudam a minha queda.

Estar inserido em uma realidade em que todo mundo está tão cheio de si que ninguém se vê talvez seja a mazela social contemporânea. Não permitimos ouvir o outro. A tendência é rumar o assunto para um problema semelhante que nos aconteceu ontem, e assim aproveitamos para roubar o lugar de desolado do outro. O momento do outro. O maior problema do mundo do outro.

Nenhum contexto é pequeno para desesperar-se. Jamais saberei o que se passa dentro do peito de alguém. Não me foi dado o direito de julgar, tampouco de apontar como covardia a fuga sobre qualquer coisa. Eu fujo de mim mesma tantas vezes. 

Respeitando a dicotomia de quem está ao nosso lado, entendendo suas contradições pelo simples fato de amar. Resvalando nos próprios conceitos para compreender que a razão não é universal. Ser, pois, mais ouvido do que voz. Mais compreensão do que indiferença.

Ao ouvir-me, também gosto que confirmem o meu sofrimento. Os consolos de um amanhã melhor todos já trazem consigo dentro de si. O que nos falta é poder dividir a tempestade. É ter um ombro que apenas silencie. Alguém que nos compreenda mesmo sem entender-nos.

Na dimensão do meu problema, que é o maior do mundo, transformo a pouca força que tenho em amor, tentando nunca esquecer o que me levou a chegar até aqui. O que me fez insistir a ponto de achar que esse sofrimento valha a pena. A ponto de transmutar conceitos e estilos apenas para reconfortar a alma e acariciar a felicidade que está tão perto, mas que o alcance é quase sempre dificultoso.

Nessas idas e vindas que intercalam felicidade e angústia, então, encontrar alguém que nos acuda sem impedir que afundemos um pouco. Que desfrutemos de um momento que não nos deve ser tirado: o extravasar de uma dor. O regurgitar de uma dúvida sem procrastiná-la com a indiferença.

Minha dor, eu sei, é que nem a tua. Somos sofredores. Vítimas. Pobres coitados. A hora de chorar é o momento de vazar todos os males que nos acompanham, dando força para tentar outra vez. Não temos porquê desistir. Minha vida é uma só, assim como a tua, e não podemos nos dar ao luxo de dizer adeus sem tentar uma última vez. Seria humilhante a covardia de não ter insistido. Constranger-me-ia saber que fiz pouco por amor.

 

THIANE ÁVILA.

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