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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Canção certa na hora errada

8/9/2015 - São Roque - SP

A impressão de viver o melhor no momento errado. A agonia de não querer pertencer a algo, mas sentir-se intimamente ligado a uma vida inteira. A uma ameaça de felicidade. A uma promessa de relevância.

Somos a inconstância do tempo em total desarmonia com o andar da rotina. Com a levada das horas. Tudo é bagunça no peito de quem já quis ser muito para alguém. Nada é verdadeiramente real a quem já morreu uma ou algumas vezes.

Nos passos silenciosos e turbulentos que nos levam a lugar nenhum, teimamos em desbravar horizontes, conhecer novas fronteiras, estabelecer novos vínculos. Nunca se sabe se o momento certo é o presente, mas também nunca se saberá se o futuro será um tempo legítimo. Ou se o passado significou o que achamos que ainda significa.

Nas recordações, a confusão entre o que de fato aconteceu e as criações das vontades enterradas em terreno baldio. Profetizadas à realidade por uma linha tênue que existe entre a coragem e o comodismo. Entre o arriscar-se ou manter-se sóbrio.

Não tenho a obrigação de acertar a música, tampouco o momento de tocá-la. A trilha sonora das vivências é senão uma partitura riscada e cheia de erros. Não é raro que se confunda a melodia com o contexto no qual se insere. A qualidade e a adequação são relativas a uma atmosfera inteiramente subjetiva e interior.

Há eternidades, pois, que duram dias. Vidas que duram horas. Felizes para sempre que não ultrapassam uma noite. Na relatividade que o trajeto pressupõe, encontramos, de encontro ao vento, as raízes desgarradas de uma tentativa de permanência. Fazer alguém feliz passa primeiro por fazer feliz a si mesmo.

Ignorando as necessidades de reclusão, a sociedade caminha a uma frenesi de sentidos. A uma busca frenética por sabe-se lá o que. Enquanto isso, os loucos desafortunados andam na direção contrária, a doer, a amar, a implorar desvios em uma retidão que agonia.

Nem sempre as qualidades são aceitas. Quase nunca só o amor é o suficiente. Andamos, dia a dia, buscando cada vez mais. O erro, no entanto, é querer mais quando não se sabe dar valor nem ao que se tem. A quantidade é a miséria de uma alma vazia. O mundo já esteve do seu lado, mas é cada vez mais difícil reconhecê-lo.

Numa crescente, a solidão tem estado ao lado de quem não se deixa acompanhar. Num despropósito incomum de levar a própria vida, compromete-se o alheio, antecipando a catástrofe depois de fazer mendigar.

Minha maior frustração é perceber que os tempos caminham rumo à indiferença. Não se sabe o que fazer, mas não se deixa de agir. Não se conhece o caminho, mas não abre mão de levar o outro pelo escuro. Não estou decidida se concordo com o discurso de um eu suficiente e posicionado. Com um eu seguro de si. O “eu” que respinga nos outros pode ser fatal. Poucos se dão conta disso.

 

THIANE ÁVILA.

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