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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Sempre esperando

15/12/2015 - São Roque - SP

Continuar esperando farelos. Restos. Migalhas. Sobras. Aquilo que ninguém mais quer ou que está disponível no momento. A falta de opção refletida em mau gosto. A hostilidade de contentar-se com o mal passado e frio. Com o odor de algo mais intenso e que está apenas de passagem pela devassidão. 

Não sei mais contar as vezes que a submissão ao nada fez dos dias o seu tudo. A quantidade de leituras e horas desperdiçadas pela espera do que sempre soube que não viria. A amostra grátis do que pertencia apenas na vontade e nos gestos despendidos. 

Deixar alguém na geladeira equivale a fazer do outro o solado do sapato descartado, ou então requerido no momento do desespero. Pés fumegantes em areia de praia quente, satisfeitos com qualquer coisa que os tire daquela situação ruim. Ser estepe de uma vida feliz é desumano. 

Quando se tem a pretensão de amar por miúdos ou de fazer da própria vontade sempre a soberana, percebe-se o quanto que o egoísmo está enrustido nas boas intenções. Vê-se que os trouxas bons de coração são feridos para tapar lacunas adjacentes de histórias que nunca serão resolvidas. Falso amor e falsa entrega. 

Pobres coitados de nós, que de coitados não temos nada, que deixamos que o outro faça da nossa espera seu alimento e sua glória. Inquietos de coração os que, como nós, não conseguem mergulhar sem profundidade e que frequentemente estrupiam-se no chão pela insensibilidade de um olhar posto no lixo. 

Minha maior prova de amor sempre foi os meus olhos. No momento em que os perco de mim, sei que me encurralei mais uma vez em algo que não saberei sair sozinha. Sou quase um desperdício de doação. O que dou nunca sobra e o que recebo nunca alimenta. 

 

THIANE ÁVILA.

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