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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Sem inspiração

7/2/2016 - São Roque - SP

A maior parte dos momentos são da maior injustiça com as horas. O tempo de planejar e de sentir o gosto precoce do que ainda nem se concretizou e que, quem sabe, nunca venha a se concretizar. Narrar o presente já é narrar o passado. A relutância por permanecer é esse mesmo Deja Vú que estou tendo agora ao escrever essas palavras. A sensação de que já sabia que escrevia essas próximas que ainda não escrevi, mas que agora, no caso, já estão escritas.

Meu paradoxo astral é o mesmo que reluz durante o dia a escuridão de uma ideia sem base. De uma letra sem combinação. O vazio de ficar à margem é mais triste do que estar longe daquilo que se pode ver, mas que não se pode alcançar. Saber da incapacidade é lutar de mãos atadas com a vontade de poder. Com o turbilhão que fervilha a mente em uma maré de querer que nunca sabe a hora de parar. Não estou inspirada, mas ainda assim escrevo.

A minha contradição é a verdade que eu não sei dizer. Quando quero com muita força, o boicote surge porque faz parte do outro extremo. É que quando se puxa demais um lado da corda, o outro, inevitavelmente, vem junto. Os extremos jamais se desvencilham. A proximidade de um acarreta, necessariamente, a do outro também. Involuntários os lampejos de sensatez frente a um frenesi de catarses ambulantes. Que sabotem, um dia, a sanidade que caminha na frente do fazer. Quando o tempo passa sem passarmos por ele é porque essas duas coisas pegaram intimidade demais. Fazer combina simplesmente com sentir.

Na minha racionalidade frustrada, contemplo as minhas sensações como quem pensa sobre o cheiro que sente, procurando ouvir o que ele tem a dizer. Sentir o gosto que as próprias palavras e sentimentos podem demonstrar em uma simples ameaça de som. Sentimos da forma como estamos preparados para sentir. Sempre fui sinestesia. O organizado do toque me assusta. Se planejo amar, não amo.

Meu principal defeito talvez seja essa falta de inspiração que favorece o desmanche. Derreto nas palavras como o sólido que vira líquido. A superfície de contato expandida não me auxilia no contraste dos sonhos, tampouco na mansidão dos atos. Quando o querer fusiona, sou eu quem desperto da letargia por trás da concha. Vivo ensimesmada com qualquer coisa semelhança a uma autodefesa que só existe na minha cabeça. Ao todo, minha soma é incompleta. A frustração é não explicar ou não entender? Ou então entender de menos para não precisar explicar demais. Qualquer um passa por pensar. Já disse que não estou inspirada.

 

THIANE ÁVILA.

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