Autor: Ângela Schiezari Garcia
Férias de Julho! Viagem com a família para um lugar montanhoso onde o frio contagiante inspirava o romantismo.
Lareira acesa nas noites estreladas; gravetos de lenha no cesto ao lado; passeios a cavalo, a pé, pelas manhãs orvalhadas; compras no centro comercial à tarde; cachecol, luvas, vinho e chocolate quente.
Tudo já estava nos planos. O que Suzana não havia imaginado era encontrar a magia no vale onde ficaram alojados.
A casa no alto da colina, alugada de um senhor francês, era espaçosa, com estrutura interna acabada em madeira e cortiça. À sua volta grande variedade de flores da região como hortênsias e gerânios. Na mata, algumas árvores eram cenário para o show de equilíbrio e agilidade dos esquilos. Um espetáculo à parte!
Dona Maria, 78 anos, muito saudável, embora pequena demais para realizar tanto trabalho, cuidava dos serviços domésticos e da comida caseira, tão bem temperada. Parecia mais uma gnominha encantada que alegrou a estadia da família Lopes durante aqueles dez dias.
A cabana de Peter Pan era o passatempo predileto das crianças, que numa linda manhã, resolveram caminhar com sua mãe, acompanhando o curso d’água cristalina que passava pelas imediações do terreno íngreme. Troncos caídos formavam pontes naturais, flores e folhas secas, pedras, araucárias; o vento soprava, movendo o bambuzal que demarcava a divisa com a estrada de terra. Ao som do cavalgar dos cavalos, elas viajavam na imaginação...
Mãe e filhas compuseram um belo arranjo natural feito de material exótico encontrado no chão. Escolheram a maior de todas as árvores para ser presenteada. A filha mais velha batizou-a com o nome de Troncolina e a mais nova dizia que a Troncolina era a mãe de todas as plantas do vale.
Permaneceram em silêncio por algum tempo, contemplando a paisagem que as envolvia.
O ambiente se transformava. Folhas próximas ao tronco se moviam em ritmos alucinantes. Seriam os seres da floresta?
Formaram um círculo, de mãos dadas em torno da árvore escolhida e de olhos fechados sentiram um calor intenso e a pulsação mais forte. Aquela energia era o sinal de transporte ao Mundo da Fantasia, das histórias infantis que tanto apreciavam...
Combinaram manter em sigilo a vivência criativa que não tinha limites.
Nas manhãs seguintes, Susana observou que, quando as crianças saíam para brincar na cabana, levavam consigo flores, folhas e discretamente pegavam o rumo da trilha que levava ao mágico esconderijo.