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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Talvez não nos importemos

29/7/2016 - São Roque - SP

O mundo encolheu e as relações se distanciaram. Vivemos no outro a sensação tentadora de reencontrar o que não se descobriu a busca. Pela ambiguidade dos laços, retrocedemos, em passos rápidos, rumo à superfície. Enquadramos, no roteiro das mimicas enjambradas para acusar o que não existe, qualquer toque que ameace ficar. Fora do seio das compreensões sobre os instintos que fazem o querer sobrepujar o desinteresse, damos, ainda, as mãos ao paradoxo de sentir com maestria o gosto amargo da distância daquilo que está ao alcance dos olhos. 

A tendência que globaliza é, pois, um almanaque embaralhado das provisões ilegítimas que nos seguem vida afora. Saboreamos, ao mesmo tempo, a docilidade de uma ternura estampada nos olhos que se direcionam, juntamente com a tristeza reverberada pela falta de habilidade de manter relações. De emancipar rotinas que não condizem com a maldição de reprimir. De suprimir. De substrair as possibilidades de felicidade. Nossa individualização crescente faz rugir o som amargo da impessoalidade em terra de corpos íntimos. Não nos importamos.

Pelos atalhos dos investimentos, economizamos as gentilezas. Preferimos camuflar a serenidade do olhar pela despretensão da intenção que é verdade. Da companhia que se estabelece pelo simples fato de bater. Para tudo, acostumou-se a encontrar explicação. Emoldurar justificativas. Entender, pois, demasiadamente aquilo cuja origem nem se dá conta quando se transforma em realidade. É a melancolia de viver em grupo seguindo a lógica da individualidade que se sustenta.

Amanhã, quando a vontade da liberdade for enaltecida como a chave para qualquer coisa. Quando as órbitas entenderem a completude do desajeitado, do grotesco e do imundo. Quando aprendermos a resolução das incapacidades. A loucura das predileções estúpidas e a alegoria das saudades que se orgulham. Apenas depois do primeiro passo, da primeira entrega e da primeira abertura ao velho. Ao rarefeito e ao opaco. Apenas depois disso, amanhã, sentiremos a solidão do que se globaliza pela ambição do que não se mantém. 

 

THIANE ÁVILA.

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