ColunistasCOLUNISTAS

Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

A chuva refaz em gota

27/8/2016 - São Roque - SP

O que se perde depois te ter tido, longe de ser o que se tinha, é mais uma lembrança necessária para acreditar no que, um dia, de fato, se teve. Minha tristeza, no instante das letras, reconfigura a alegria do fundo e não da figura. As proeminências que deixamos ao lado, como que arrogância desajeitada, afirmam o grau absoluto da falta de habilidade com o detalhe. O tato grosseiro que quebra, ao primeiro olhar, o imperceptível. Liquidamos antes de perceber. Queremos ter antes de ser.

Trata-se, às vezes, do cuidado manso que a chuva refaz em gota. Emociono-me, vez que outra, pela desolação do desajuste. A tempestade cessa e os olhos entoam a alegoria da saudade, parafraseando, como forma de não deixar de ser, as referências inóspitas de um tempo que quase ninguém lembrará. Na sintaxe capaz de traduzir essa sinestesia subtraída, talvez a solução esteja apenas na epígrafe que será, depois, discorrida em história. Em vida. Em gesto ou resiliência.

Abotoo, agora, a camisa que veste, em meu corpo, um quê de mundo indesejado. A fantasia feita de alma e concebida em traje pela externalidade que não compactua com o roteiro. É íntima do avesso e da subversão. Perguntar, nesse momento, é subverter, ainda que não haja resposta. Ainda que ninguém se levante. Preciso, pois, como forma de sentir a potência inquieta da existência, problematizar o silêncio, colecionando elementos para um debate ferrenho em guerra. No pódio, ninguém afinal. Na luta, a resistência absoluta, sozinha ou acompanhada, a juvenescer pelo hábito de negar e não se satisfazer pelo sim naturalizado.

Minha subalternação, via de regra, é desmembrada em empirismos esdrúxulos e profundamente significantes. Na semiologia da minha vida, estabeleço as conexões justas aos limites sem barreira. Pela vida inesperada e pelo despreparo inaugural e romantizado, elevamos a esfera da falta de recurso nos discursos que decidem vidas. Que angariam almas para alimentar a supremacia hipócrita de quem não justifica, mas apresenta como verdade.

Não me faz o contorno qualquer gesto soberano que abuse do ócio de uma tarde sem compromisso. De uma noite insana de prejuízos puramente consequentes das próprias atitudes. Espero a transparência de um reflexo coerente com falas e ações. Com teorias e dilemas. Hoje, quando conseguirmos provar as testagens de toda a engrenagem que subverte, amanheceremos com a salvaguarda de uma liderança autárquica em solo de magistrados. Sem papel que detenha o valor, mas com humanidade que se compadeça pela virtude de não precisar provar, in loco, absolutamente nada.

 

THIANE ÁVILA.

Compartilhe no Whatsapp