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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Meu silêncio em meio a tanto barulho

4/10/2016 - São Roque - SP

A minha mãe tem cheiro de cama quentinha, voz de brisa marinha com um toque aveludado de saudade. Minha mãe é a rotina que não se cansa, o abraço apertado sem hora pra acabar, daqueles que damos a quem veio de longe, mesmo que ela esteja sempre por perto. Mãe é que nem sorriso de criança, banho de chuva em dia quente e doce antes do almoço. A minha, de modo muito particular, tem remanso de fim de tarde, daqueles com pôr-do-sol brilhante que lembra infância e leveza.

Minha mãe tem a textura daquelas sedas recém-compradas e o aconchego de um sofá largo depois de um dia cheio de trabalho e estudo. O colo dela é feito grama macia que acaricia cada milímetro do corpo, fazendo um cafuné que faz sentir cada fração de amor incondicional que só as mães sabem sentir por nós. Minha mãe cheira orvalho e café novinho, tem nos olhos a segurança de uma calma inquestionável. A certeza que eu nunca vou deixar de ter. Mãe que suaviza todos os embates, transferindo toda sua força oculta por meio da aposta eterna sobre o que nem nós acreditamos poder fazer.

Minha mãe é silêncio onde os gritos ensurdecem, fazendo do mínimo ruído a necessidade primeira pra desacelerar a busca pelo nada a que nos submetemos todos os dias. Ela é o estado de natureza legítimo e incorrompível de quem não tem dúvida em meio a tanta incerteza. É minha rotina fora de hora nos momentos certos e errados. Minha mãe é a minha certeza sobre não saber praticamente nada da vida e, ainda assim, estar disposta a tentar. Mãe que limpa meu suor de correr contra o tempo e as exigências como forma de me desvencilhar dessas prerrogativas de roupagem desajustada ao meu tamanho. Às minhas intenções.

Minha mãe é feito sopa em dia frio e cobertor à beira da lareira. É bolo de fubá quentinho com chá de hortelã. Mãe com cheiro de terra molhada e barulho de chuva para dormir. A minha lembra o sentido desconhecido da vida, me fazendo tranquilizar só pelo fato de tê-la como mãe - o que, por si só, já compensa toda essa loucura desenfreada que é passar por essa experiência mortal de viver.

 

THIANE ÁVILA.

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