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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

É tudo circunstância e só

5/11/2016 - São Roque - SP

Sem maiores análises ou dissoluções. Deixando de lado a angústia por resposta, já que a falta dela é também uma forma de dizer tudo o que precisa ser dito. As circunstâncias implícitas neblinam a vista feito gesto indigesto de quem não se preocupa. Não há obrigação em estar, tampouco compromisso com a saudade de quem não se sente. A inclinação de um eu que é observado faz com que acreditemos na reciprocidade pelo simples fato de querer. As apostas são vícios incuráveis.

Dentro das perspectivas avessadas e transbordantes de quem quase não aguenta o peso do tanto que sente, a lente parece imbuir as prerrogativas de um excesso que busca se direcionar. Ele já tem direção. Nossas ansiedades reconfiguram os sentidos dados às coisas à medida que não controlamos as emoções. Que, mesmo com o aperto de um abraço engasgado, não conseguimos dissolver num simples gole de razão. Mente e alma em paz é circunstância rara em ocasião de quereres e silêncios.

Por meio das tentativas frustradas, damo-nos conta do tempo que se esvai feito pó pelos dedos. Sem controle sobre o que possa ser dito, emancipamos as ações em forma de choro quieto. Não precisamos mostrar ao outro se não quisermos, embora eu acredite que a validade de passar por aqui seja justamente o ato de se despir. De se perder. O sofrimento, afinal, inaugura as rebeldias e os recatos que se solidificam em forma de mansidão dentro da gente. É preciso pôr pra fora antes que não haja mais espaço para nada por dentro. Entupir-se das próprias emoções é desperdiçar o pouco de sentido que a vida parece ter.

Longe de pessimismos ou dramatizações melancólicas de um amor mal sucedido, recordo nas palavras silenciadas o tanto de afeto que algumas pessoas perderam. Sentimentos bonitos dentro de gaiolas são o câncer da nossa geração. O meu medo é de não amar. De não cair e de não me esfacelar. A dor de uma emoção vivida em plenitude me faz lembrar que estou viva. Me faz sentir a contradição que uma necessidade, no ápice de sua autonomia, pode gerar no simples fato de permitir ao outro que participe do tanto que temos para dar. Se não for para dar tudo, prefiro que não seja dado nada.

 

THIANE ÁVILA.

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