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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Nossas sombras

20/11/2016 - São Roque - SP

No meio de todo o caos, repouso na bagunça que segura a outra ponta da corda. Equilíbrio emancipado pela confiança de não soltar, ainda que doa, ainda que grite. A presunção dos ideais em harmonia me parece o mal do século. Falta de perspectiva, pois, essa ressonância avessada entre princípios e goles de entorpecentes. Para negar o que o corpo emana, é preciso descontrole sobre a engrenagem – e não o contrário.

Nas ameaças de luz, envergo os olhos para olhar para dentro. Não me interessa, agora, ver o que todos veem. Acreditar no vulgar para me livrar dos encargos da verdade – ainda que não haja verdade, ainda que tudo não passe de nada. Estar aqui, agora, é confluência desajustada de milhões de acasos previsíveis. Sem destino, sem sabote. Por mais que a gente tente, vai acontecer de querermos o mesmo abraço, a mesma pele e as mesmas desculpas esfarrapadas. Estando junto apenas para desvencilhar os monstros no encontro íntimo entre todas as suas rebeldias. Geralmente não temos paz.

Enquanto o peito estufa a ansiedade de estar num cárcere sem perspectiva de saída, dou as mãos a quem também se desconhece. A quem se conhece tanto a ponto de não se reconhecer. De amanhecer em si mesmo a cada noite, afirmando e dando voz a todos os silêncios oprimidos e confusos. Desequilíbrio entre o real e a fantasia – talvez o único motivo capaz de ainda nos manter de pé. As memórias que se estabelecem como forma de seguir se renovando. O medo é um vir-a-ser de uma vigilância decadente. Não quero me vigiar.

Das vontades embaralhadas, sopro agora aquela que se mostra destorcida, borrada. Tudo parte dos erros que valem a pena. Daqueles que se mantêm por tempo indeterminado. Definitivamente, a camuflagem do nascimento em vida é a ancoragem para um sentido que não se efetiva. Não vejo sentido, mas sinto a falta. Aproveito a ausência para ser a presença em terra de estranhos. O desconhecido sempre me teve. O mergulho é de cabeça.

 

THIANE ÁVILA.

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