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Jonathas Rafael

Autor: Jonathas Rafael

“Bandido bom é bandido morto”. Não mesmo!

1/12/2016 - São Roque - SP

O instituto Datafolha, a fim de colaborar com o 10° Anuário Brasileiro de Segurança Pública, buscou investigar se para a população brasileira “Bandido bom é bandido morto”. O resultado foi: 57% concordam que sim, 34% discordam da proposição, 6% não concordam nem discordam, 3% não souberam responder. A margem de erro é de dois pontos, para mais ou menos. A pesquisa não foi causa de surpresa. No ano passado uma pesquisa semelhante foi amplamente difundida, e constatou que 50% da população brasileira concordavam com a mesma proposição.

 

Para alguns, o aumento dos 7% neste ano é alarmante, denuncia o quanto a sociedade se sente oprimida e revoltada, principalmente, contra o sistema judiciário e seus aparelhos preventivo e punitivo. Para alguns outros, representa o ódio da sociedade diante do descaso que há muito tempo vem sofrendo. De certo modo já era previsto, porque cada vez mais há a tentativa incessante de propagar o discurso de medo e de insegurança e fazer com que a sociedade faça uso dele para fundamentar suas opiniões e ações, e isto não é recente.

 

É a criança que não pode brincar sequer na rua de sua casa à noite. É o grupo de amigos, homens, na rua, a qualquer hora do dia, que precisa ser evitado e denunciado, porque certamente está traficando, planejando um assalto, um latrocínio. É o pai de família que precisa ter um “berro” debaixo do travesseiro para se defender e defender os seus, caso algum “marginal” invada sua residência...

 

Esse aumento constatado na pesquisa não é, porém, o fato mais importante a ser observado, embora seja compreendido como tal por análises pessimistas, aliás, niilistas. O discurso de medo e de insegurança faz convites insidiosos à sua defesa, o qual é reforçado enfaticamente por uma parcela da sociedade. Antes disso, então, é indispensável observar os 37% da população brasileira que foram de encontro à proposição “Bandido bom é bandido morto”, que têm consciência de que não se trata violência com mais violência, que a quem chamam “bandido” não é um objeto, e sim um ser humano cujos direitos fundamentais têm de ser assegurados.

 

Defender que “Bandido bom é bandido morto” é retroceder. Reporta claramente a uma época em que os suplícios eram entendidos como a melhor e mais eficiente forma de punição. Época em que a punição era terrivelmente mais violenta do que o ato punível. Não havia nenhuma consideração da humanidade do supliciado, seu corpo era o principal objeto, a morte por meio da tortura era o objetivo. Desmembramentos, degolações, enforcamentos, açoites, apedrejamentos, tudo observado e legitimado pela população, pelo menos em um primeiro momento.

 

Se 37% dos participantes demonstraram entender que não se pune um ato violento com um ato punível ainda mais violento, mais até, que quaisquer atos de punição que violem a dignidade humana devem ser repudiados, isto é encorajador, ao contrário do que muitos pensam. Essa porcentagem representa a minoria em número, mas isso não implica dizer que essa minoria é incapaz de promover mudanças, novas posições diante da realidade.

 

Dito isso, cumpre lembrar que a violência é intrínseca ao ser humano. Se há ser humano, há violência. Só há violência porque há ser humano. E essa não é uma visão pessimista, e sim realista. Se compreendermos que somente o outro é violento, somente o outro é passível de cometer crimes, logo, somente o outro deve ser punido, estaremos caminhando para um abismo sem fim. Não estaremos contribuindo com nada. Se quisermos, de fato, promover mudança social, comecemos pela leitura de nós mesmos.

 


Jonathas Rafael

1°/12/2016

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