É como não habitar onde se vive ou não viver como se sobrevive. Antecipar as lágrimas para contornar as tristezas, fazendo jogo de luz à menor ameaça de escuridão. Como se a neblina ofuscasse o que o dia promete vingar. Estou longe de casa por não enaltecer essa exigência de fixar-se. Sou nômade para as experiências. Sou anfitriã das passagens. É estranhamente apaixonante quando decido ficar.
Minha natureza cambaleante faz metáforas com as possibilidades, criando roteiros metódicos sobre essa felicidade sem lei. A prescrição dos intuitos faz morada no peito de quem se ama, fazendo ninho quando decide não ir embora. A alegoria da saudade reverbera um quê de nostalgia ao que se espera que venha. Vivendo as horas antes dos minutos, é como se a solidão permanecesse intacta a cada vacilo. A cada despedida - breve ou demorada.
Hoje acordei com a estaca estendida para as vontades. Desfiz o nó da vida amarrada ao medo e desejei com sede o amor que vive em mim. Entrevistei os refúgios mais sombrios que se mostram vez que outra pelos sinais que o corpo dá, comprovando os sintomas que a falta faz. Sentindo na pele os arrepios que o amor provoca. Tudo caminha pelo oásis moldável de todas as caricaturas imaginadas, mas nada se assemelha ao reflexo pela retina dos próprios olhos. O amor está lá quando o melhor espelho se faz no olhar do outro. Ver a si mesmo em olhos certos, sem precisar ajeitar absolutamente nada do que se vê.
Estou longe de casa e com as pernas cansadas. Já vulgarizei alguns hiatos que hoje se reconfiguram na minha dosagem de sentir. No meu sentimento dosado. Não sou de parcelar emoção, por isso não racho, mas quebro. Não arranho, mas parto. Não choro, mas desmancho. Não tropeço, mas caio. Assim se impulsionam as lonjuras da minha existência fadada a nunca se fadar. Agora, aqui, sozinha, fado à falência a discrição do peito ardendo. Deixa arder para moer as contusões como quem espera ansioso pelo abraço do caso certo. Amanhã vem o beijo e o colo que a noite separa. Nada é tão difícil quanto estar longe de casa - tenha ela paredes ou braços.
THIANE ÁVILA.