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Jonathas Rafael

Autor: Jonathas Rafael

“Ordem e Progresso”

5/4/2017 - São Roque - SP

 

Era, deixou de ser, agora é novamente, o lema “Ordem e Progresso”. Como se sabe, Dilma, no início de seu mandato, alterou esse lema para “Brasil, pátria educadora”, deixando claro que seu governo iria priorizar as educações acadêmica e cidadã. Depois de o atual presidente em exercício assumir a Presidência do Brasil, cumpre dizer que por meio de um processo de Impechetman, e não por eleição, o lema voltou a ser “Ordem e Progresso”. Desta vez, faz menção à tentativa de retirar o país da “atual” desorganização econômica, política, social. Junto a isso, o presidente em exercício deixou em segundo plano a Auriverde e optou por uma versão desatualizada da bandeira do Brasil, que foi utilizada entre 1960 a 1968, isto é, em pleno governo Costa e Silva e em plena Ditadura Militar. Por quê? Não se sabe ainda, pelo menos não por meio de suas próprias palavras. 

 

O lema proposto por Dilma foi, e ainda é, alvo de críticas. Para alguns, não passou de um subterfúgio publicitário. Para outros, foi desencadeador de rombos nos cofres públicos. Para alguns outros, paradoxalmente, foi o prenúncio de cortes profundos no Sistema Educacional. Bom, quer queira quer não, a verdade é que o investimento na educação de fato ocorreu, e isto se mostra claro até mesmo a uma análise bastante superficial. O acesso à Educação de qualidade se vez ver nas diferentes realidades brasileiras, nos diferentes setores de ensino (Básico, Fundamental, Técnico, Superior), principalmente por meio da EaD - Educação a Distância.

 

Se o lema proposto por Dilma continua sendo alvo de críticas, mesmo depois de sua retirada do governo, o proposto pelo atual presidente em exercício, “Ordem e Progresso”, também o é. 

 

Diz respeito a um sistema filosófico que supervaloriza evidências científicas em detrimento de todas as manifestações subjetivas e culturais. Baseia-se em cientificismo. Considera que a única maneira de o desenvolvimento humano ocorrer é por meio do saber científico. Compreende que as tradições têm de ser conservadas e tudo aquilo que a elas não esteja relacionado, portanto ruim, tem de ser eliminado. O que se discute aqui não é necessariamente a criação do lema, sua indexação ou retirada da bandeira do Brasil, e sim sua retomada em um momento tão singular de nosso país. Não parece um descuido... 

 

Dada essa conjuntura, é indispensável lembrar que esse lema, “Ordem e Progresso”, esconde, com muita frequência, ações tirânicas. Se, de um lado, há o repúdio de manifestações subjetivas e culturais em detrimento do saber científico e, de outro lado, é preciso prezar pela Ordem e eliminar todas as suas dissidências para alcançar o Progresso, há uma denúncia. Faz entender que não há espaço para a singularidade, somente para a uniformidade. Não há desacordo, somente consenso. Toda manifestação de singularidade, e isto significa posições diferentes em relação ao que é proposto, mesmo que seja em massa, tem de ser desconsidera e tratada como desordeira, logo, eliminada. O que há é uma tentativa de disciplinar. Isso parece ter ficado explícito, por exemplo, quando a população foi alertada de que punições seriam colocadas em prática, se se continuasse proferindo que Dilma foi retirada do governo injustamente e que o atual presidente em exercício se tornou presidente por meio de um golpe.

 

Para finalizar, é importante dizer que esse tipo de governo, embora mostre-se absolutamente forte, possui suas fraquezas, e elas se concentram justamente na imposição da Ordem. Ao impor a Ordem, denuncia temer a Desordem advinda de fora, que pode vir a afetar sua estrutura. Qualquer tipo de desordem suscita horror. Isso, porém, não quer dizer que precauções têm de ser evitadas. É necessário ficar atento aos seus ditos pelos não ditos. É necessário quebrar a Ordem instaurada sem fundamentos. É necessário se manifestar. Nem toda Desordem é danosa, nem toda Ordem é salutar. 

 

 

 Jonathas Rafael

5/4/2017

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