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Davi Junior

Autor: Davi Junior

É impossível esquecer o Coringa de Heath Ledger

6/4/2017 - São Roque - SP

Olá Bat-fãs da cultura pop!

Quando vi pela primeira vez Heath Ledger na pele do Coringa, lembro que a sensação foi de espanto, um pouco até de asco e desconfiança. Com o lançamento do primeiro trailer, o talento do ator foi se sobressaindo ao visual diferente quando comparado aos quadrinhos e logo após o filme, já era a figura do ator a personificação ideal que eu fazia do personagem.

Batman - O Cavaleiro das Trevas se tornou o meu filme favorito de super-herói graças ao trabalho deste grande ator!

No vídeo abaixo, faço minha resenha em 1 minuto (com cronometro e tudo, vale a pena conferir) e logo após, minha análise detalhada em texto.

 

 

 

Justiça. Confundido com a cruz e a espada, um justiceiro cria esperança aos mais inocentes e terror aos mais difusos. Em Batman - O Cavaleiros das Trevas caos e o acaso se unem para contar a história do herói que Gothan precisa, mas que ela precisa aprender a merecer.

O CORINGA

Desde Titanic, não houve filme na história do cinema mais cheios de rumores, mais cheios de lendas, mais cheios de superstições ou simplesmente mais comentado em escolas, locais de trabalho ou numa conversa com os amigos do que Batman - O Cavaleiro das Trevas.

Cercado por contextos e desconexos, o segundo filme do Homem-Morcego nas mãos de Christopher Nolan surpreendeu multidões no cinema e fora dele, seja com seus diálogos fortes ou com todos os acontecimentos envolvendo atores e produção.

Se o trabalho de marketing envolvendo o filme se tornou uma referência mundial para o chamado marketing de guerrilha (com ações que variaram desde shows com a esquadrilha da fumaça na Comic Con até caça ao tesouro na cidade de São Paulo), foram as tragédias envolvendo o acidente de Morgan Freeman, o caso da provável agressão de Christian Bale e a morte de Heath Legger que levou o filme a repercussões mundiais mesmo antes da estréia do filme em 2008.

Mas independente das previsões e do proveito que muitos meios de comunicação tiraram da situação, não foram tais acontecimentos que tiraram o brilho dos filmes na telona, um clássico dos tempos modernos e arrisca-se a dizer, o melhor filme de todos os tempos.

Até quando será necessária a existência de Batman em Gothan City?

E não é para menos, combinando a figura de um herói sombrio com a perpetuação do caos que um vilão imprevisível poderia propiciar, Christopher Nolan levou para os cinemas uma experiência nunca antes vivida por um expectador em qualquer tipo de arte.

De maneira muito mais contestadora e muito mais incisiva que Batman Begins, o segundo filme do reboot do Homem-Morcego se utilizou de toda uma mitologia para racionalizar em metáforas questões que levam o espectador a se perguntar a todo o tempo o que este faria se estivesse em Gothan City.

O CAOS

Não é a toa que Batman é um herói que sobrevive a décadas e para sempre seu legado será perpetuado através de suas revistas. Junto com Superman, o herói consegue englobar a todo tipo de espectador, primeiro o que prefere uma visão simplista e esperançosa e o segundo aqueles com uma visão complexa e menos clara do que será seu futuro.

Mesmo que criados numa visão durante a segunda guerra mundial, os valores e a simbologia deixadas, utilizadas e sumariamente reinventadas nos quadrinhos, tv e cinema formam uma rica visão ideológica para ser passada através das lentes de Hollywood, afinal qualquer tipo de idéia pode ser reinterpretada e aplicada em qualquer tempo que seja exprimida.

Coringa é como um cachorro atrás de um carro, se conseguisse pegá-lo, não saberia o que fazer com ele.

Christopher Nolan foi o diretor que mais pôde perceber isso ao filmar seu Batman. Sua Gothan foi formatada de mostrar toda a decadência que uma cidade com 33 milhões de habitantes pode criar. Seus habitantes, tão corruptíveis e ao mesmo tempo tão revoltados com a situação que criaram se tornaram cada vez mais humano com a condição que o diretor pôs a eles: um bizarro palhaço anarquista que só quer ver o circo pegar fogo.

Criado a partir de uma visão particular do diretor, Nolan levou aos cinemas através de uma atuação inigualável e memorável de Heath Ledger um Coringa ousado, irrefreável e muito possível de ser concretizado em um contexto como o de Gothan, seja na ficção ou na realidade.

O traço mais notável que foi dado ao personagem é a sua capacidade de parecer tão real, verdadeiro e próximo do espectador. Completamente louco e insano, o Coringa desperta tanta revolta quanto admiração do público.

A medida que o vilão coloca Batman em uma nova situação capciosa, Nolan vai provocando o espectador a refletir sobre o seu contexto de vida perante a cidade de Gothan, muitas vezes restritas e desejosas de uma resposta concreta do herói, coisa que, como na vida real, muitas vezes não viria.

EU ACREDITO EM HARVEY DENT

Do mesmo jeito que o Coringa foi formatado a partir de uma situação de Gothan City, o mesmo que Nolan fez com o alter-ego de Bruce Wayne em Batman Begins, o promotor de justiça Harvey Dent foi o resultado do encontro da cidade com o seu herói.

Batman, Harvey Dent e o comissário Gordon se unem na caçada contra o crime organizado da cidade!

Necessitada de um exemplo para continuar a seguir, Bruce Wayne e o comissário Gordon vêem em Dent a oportunidade ideal do símbolo Batman não ser mais necessário e a inspiração dos cidadãos parta de algo muito empírico que a figura do Homem-Morcego.

A conversão que Coringa provoca em Harvey até ele se tornar o Duas-Caras não foi por acaso. Além de feita em um tempo incomum para os filmes de super-herói ao único estilo Nolan de fazer cinema, a ascensão do vilão foi o complemento ideal para a conclusão do filme e a idéia geral da figura de Batman na cidade, um intermediário entre a condenada Sodoma e Gomorra e a transmutação em valorosa Metrópolis.

Não só o personagem como muito do contexto da cidade, de Coringa, do comissário Gordon e do próprio Batman vem de uma combinação genial de elementos das histórias O Longo Dia das Bruxas de Jeph Loeb e O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller.

Assim como nos filmes, uma das características principais dos quadrinhos é a humanização do herói e dos vilões, e a construção de cada uma de suas personalidades sem justificar as insanidades de suas ações.

Acrescentando a discussão sobre ética, moral, medo, caos e vingança que o filme trás em cada diálogo, todos muito bem construídos e claros, a formatação final do filme cria o ambiente perfeito para uma nova geração de filmes de super-heróis e uma nova visão de como se contar histórias através do cinema.

Segundo o Duas-Caras, o acaso é o mais justo dos decisores.

O CAVALEIROS DAS TREVAS

"Estamos destinados a fazer isso para sempre". Incrível como uma das frases do Coringa consegue ser tão clara e tão complexa ao mesmo tempo.

Se para os fãs a frase teve um significante que refletiu a permanente luta entre o bem e o mal do herói e do vilão, a filosofia interpretou tal colocação como o caos e as regras permanentemente moldadas através da essência do homem.

E se fosse avaliar os campos da psicologia, antropologia, comunicação ou qualquer outra ciência humana, tal embate entre Batman e Coringa poderia percorrer tamanhas interpretações e posicionamentos que tão ricos como os dois personagens, gerariam irreversíveis conteúdos para novas e eternas discussões.

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