ColunistasCOLUNISTAS

Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Livro VII

18/6/2017 - São Roque - SP

O meu peito, por alguns instantes, se sente sufocar pelo mal que deixamos que nos façam ao longo da vida. Ao longo das experiências. É inacreditável que, inseridos em mundo compartilhado por sete bilhões de pessoas, ainda tenhamos dificuldade em canalizar nossas energias, a simplesmente redimensionar importâncias. Supervalorizamos as pessoas como se não soubéssemos do valor que temos e da independência do espírito.

Todas as confluências retóricas de amores vãos não devem ser esquecidas, mas retroalimentadas pela modificação do caos. Pela atualização das nuances intempestivas que desvalem primazias por ocasiões esdrúxulas de vidas que se atravessam à nossa com a simples missão de mostrar o que não vale a pena. Do quanto a pena é um sentimento deplorável, apto a provar apenas a pequenez de outrem.

A desventura de não saber viver senão pela aventura de menosprezar quem está ao redor, refazendo, no outro, por projeção e por mero ataque pessoal, a dor que assola o próprio peito, juntamente com os pensamentos destrutivos de quem não se ama de verdade e, por isso, jamais será capaz de amar alguém despretensiosamente. A humanidade me liquida às vezes. Olhando para trás, questiono minha inteligência ao ter deixado negligenciarem tanto minha vida e minhas prioridades.

Vivendo para os amores e desafetos, corrompo, toda vez, parte desse ser frágil que não sabe amar diferente. Que se consome pela intemperança de uma intensidade fatal, que vai consumindo aos poucos cada interstício já mazelado e fadado ao recurso último do coração estraçalhado. Já senti pena pelas desilusões que vivi, mas hoje reconfiguro todos os cacos, degustando as lembranças como sinfonias ora fúnebres, ora vitais. O gosto da saudade, temperado com a ânsia nascida do desejo e do descompasso das horas, tudo lembrado como se fossem trechos de um filme antigo.

Roteiro mal finalizado e sentenciado às prateleiras dos olhares de íntimos desconhecidos. Nossa forma de viver, por assim dizer, parece-me estúpida cada vez que remonto os encontros ocasionais pelas ruas com pessoas que não conseguem sequer fixar o olhar no meu. A prerrogativa por trás da indiferença remete-se à tristeza de viver dentro da própria realidade. Só consegue ser indiferente aquele que não sabe o que é amar, pois, se soubesse, recalcularia as feridas desencadeadas pelo simples desmerecer de uma existência que já foi, em algum momento, a primeira lembrança do dia.

 

THIANE ÁVILA.

Compartilhe no Whatsapp