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Flaviana Souza

Autor: Flaviana Souza

O papel da escola no hábito do cidadão de frequentar e desfrutar a Arte

3/8/2017 - São Roque - SP

Antes de discorrer sobre o tema do texto de hoje, gostaria de propor a leitura de um artigo anterior que elucida a compreensão sobre o que é Arte e como ela é praticada na maioria das escolas brasileiras. São textos que se complementam. Em "A Arte que a escola não ensina e o analfabetismo cultural", pudemos compreender que a Arte "contribui para que percebamos o mundo de outra maneira, mais profunda, mais questionadora e mais cautelosa quanto ao nosso entendimento sobre aquilo que observamos"; que é o composto formado pelo teatro, a música, a dança e as artes visuais e que muito do que é aprendido nas aulas de Arte não passa de artesanato e ensaios para apresentações de calendário.

Agora quero aprofundar (um pouco) na questão das saídas pedagógicas para teatros, museus, exposições, apresentações de dança e música: como são propostas e quem as propõe?; qual o preparo existente para sua realização?; e os impactos que elas causam, ou não, no educando quando adulto?.  

Segundo Isabel Marques e Fábio Brazil, "a forma como a população se relaciona com a arte é construída por uma infinidade de fatores que vão da história à economia, das políticas públicas de cultura à formação etnocultural do povo. No entanto, podemos afirmar que há um papel específico da escola na relação da população com a frequentação da arte e que é possível aperfeiçoar e valorizar esse papel".

Pode a Arte em si exercer papel educacional? "Estar na presença de arte, fruir a arte, apreciar a arte, tem o potencial de nos colocar em contato com camadas sutis do nosso ser e com formas excepcionais de construção de linguagem. Em presença da arte, é possível ver, rever e questionar o estar no mundo" (Marques e Brazil). Sim, a Arte pode educar mas não faz com que o artista consiga alcançar o aluno sem a participação do professor que tem o papel de dar continuidade, ampliação, aprofundamento e sistematização do conhecimento.

As saídas pedagógicas, na maioria das vezes, não é proposta pelo professor de Arte ou pela escola e estes não têm participação nas diretrizes dadas pelo promotor da visita (Secretarias, ONGs, empresas privadas, etc). Perde-se muito da visitação quando ela é desarticulada com o planejamento do professor e/ou da escola. Para amplo aproveitamento da visita é preciso que o professor de Arte fomente e estabeleça diálogos entre os estudantes, a arte e os artistas. São essas relações que fazem com que a saída seja completa de significados que podem, e devem, ser aplicados nas interações do aluno com o mundo e irão transformar esse aluno em apreciador de arte quando adulto.

Os vínculos significativos com a arte produzida (por tabela, com a sociedade) são de responsabilidade da escola. Caberá a ela "preocupar-se com o antes, durante e depois da visitação (...), trabalhar o contexto, a história, a compreensão e a recriação da arte; cabe à escola e aos professores de Arte tecer redes e conexões entre o que foi assistido e apreciado e o mundo em que vivemos".

Ao realizar uma saída pedagógica é preciso atingir o objetivo de fazer com que os estudantes compreendam que a Arte não se baseia exclusivamente em conhecimentos prévios, mas, com mais, afinco baseia-se em emoções e experiências. O desafio de transformar a percepção desse aluno é o que o difere de um adulto "visitador" de Arte em busca de entretenimento, a um adulto "frequentador" de Arte que chegará ao equipamento cultural com questionamentos e sairá de lá com mais dúvidas ainda.

Questionar-se perante o mundo! Isso é Arte... e a escola tem o dever de ensinar a ter dúvidas.

 

REFERÊNCIA

Marques, Isabel A.; Brazil, Fábio. Arte em questões. Cortez Editora. 2ª edição. São Paulo. 2014.

 

Perdeu os outros artigos? Estão todos aí embaixo:

A arte como campo privilegiado de enfrentamento do trágico e o caso Jim Carrey (I needed color)

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