Autor: Ítalo Lima
As andorinhas vieram do sul
Mas pouco sabe você
Sobre os ventos do norte
Aqui faz frio
E o pouco pano que me cobre
Inútil todo é para minha pele magra
Teu olhar neblina ausente por pouco
Não alterou a rota dos viajantes
Solitários e sem bússolas
Abraço é ninho de gente
Me falou certa vez uma
Moça de louça e de mil asas
Mas você evita sempre
Em pousar nos meus braços
Eu também pouco sei
Da direção das andorinhas
É que o meu pouso calado
Sempre me foi mais atrativo
A mansidão do repouso
Me faz mais forte
Tuas linhas erradas
Eu sei de cor
Mas reconheço de longe
O vento que te levou daqui
Que te levou de mim
O tempo de pipa
Não me trouxe novas folhagens
Apenas bagunçou a poeira gasta
Acumulada nos móveis empoeirados atroz
Faço do sopro meu vendaval
É que meus pés em folia
Insistem em beijar o chão
Acabo esquecendo das curvas
E dos abismos que ecoa sem voz
Esqueço também do frio na barriga
Que agora suporto timidamente a sós
As andorinhas vieram do sul
E isso nada tem a ver com imposições
Geográficas deixadas no abandono
Deparo com verdadeiro vazio de nós
A observar o movimento frenético
Das asas tortas espalhadas no ar
A confundir-se com as pipas empenadas
Ou talvez com o jeito torto
Dos mil receios que carrego veloz
Aqui dentro do meu peito não alado
Há preso um pássaro surdo
Que te espera e que esqueceu de voar.
(Ítalo Lima)