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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Atualizar-se

23/8/2017 - São Roque - SP

Novas verdades, novas importâncias. Novos contextos, novas pessoas. Novos pretextos, novos erros. Novas piadas, novas risadas. Novas vozes, novas músicas. Novos cantos, novos cenários, novas desculpas. Novos acertos, novas relações, novas formas de se relacionar. Novos encontros, novos desencontros, novas besteiras. Novas brigas, novos defeitos. Novas metáforas para inovar.

Hoje dei-me conta da necessidade de atualizar-me. Atualizar as averiguações banais sobre verdades importantes. Fazer dos cenários antigos a nova roupagem para novos argumentos. Ou então fazer dos argumentos novas justificativas para cenários atualizados. Voltar para dentro e sentir a importância de inovar a concepção celular sobre as próprias prerrogativas de continuar ou não a fazer o que se faz.

Há noites em que o sereno parece adentrar o edredom. A cabeça destapada parece ser o suficiente para congelar o corpo mediante a percepção do desigual. Do desencaixe. Tantas vezes não nos encaixamos mais, não sentimos o mesmo. Outras, no entanto, insistimos nos sentimentos e deixamos sufocar pelo sofrimento do mesmo. Uma preguiça existencial de não atualizar a importância que se tem sobre si mesmo. A relevância perceptual é uma arma perigosa para seguir com o mesmo ou não.

Essa manhã, acordei com o engasgo de quem precisa renovar o sono. Atualizar a voz para emitir novos argumentos sobre a própria vida, fazendo dos velhos motivos a explicação para deixá-los de lado. Um antagonismo sufocante sobre as ocasiões, de fato, importantes no caminho.

Atualizar-se é renovar as interpretações. Entender que não há explicação para tudo e que as pessoas não têm culpa sobre nossas projeções, nossos defeitos e fraquezas. Por mais que algumas delas tenham colaborado para desenvolvermos o ser que somos, elas, definitivamente, não são responsáveis pelo que decidimos fazer com quem nos identificamos ser. Atualizar-se também significa amadurecer e entender, de uma vez por todas, que não se pode fazer casas em seres humanos. É arriscado demais morar fora de si mesmo.

Hoje percebi que atualizar-me é perdoar a mim mesma. Desconstruir velhas arrogâncias e emancipar certos sentimentos, transmutando a dor em lágrima e grito. Deixar doer para esvaziar o espaço que se ocupa com frustração e melancolia. Atualizar o luto para não deixar algumas lacunas à mercê da sorte. Não precisamos estar sempre preenchidos, mas precisamos cuidar sempre com o que nos deixamos preencher.

Atualizar-se também passa por pedir perdão. Admitir os ócios de uma vida ocupada demais, entendendo que a dor do outro não está ao nosso alcance. Que não podemos medir as forças e fraquezas do mundo apenas pelo nosso repertório, mas que também não somos obrigados a aceitar tudo, afinal de contas, o mundo também não conhece nossas dores. Viver em paz e em constante atualização equivale a exercitar a sensibilidade de sentir, respeitando cada etapa das sensações como forma de tentar atualizar-se num ritmo único e que só diz respeito a nós mesmos.

 

THIANE ÁVILA.

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