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Flaviana Souza

Autor: Flaviana Souza

A arte como campo privilegiado de enfrentamento do trágico e o caso Jim Carrey (I needed color)

23/8/2017 - São Roque - SP

 

A arte como cura

 

“A arte é o campo privilegiado de enfrentamento do trágico.” Essa frase de autor desconhecido sintetiza o poder que a arte tem como facilitador no processo de cura mental. entre 1905 e 1999, a Drª Nise da Silveira, psiquiatra alagoana, substituiu o tradicional tratamento com eletrochoque, isolamento e camisa de força pelo uso da arte revolucionando os tratamentos oferecidos em manicômios. A médica tinha como máxima  “Eu não acredito em cura pela violência.” Seu trabalho foi transformado no filme “Nise - O coração da loucura” com a atriz Glória Pires interpretando a Drª Nise.

Utilizando a arte visual como uma forma de terapia ocupacional, Drª Nise entregava sua face a tapa diante de uma metodologia menosprezada pela medicina convencional. A técnica do uso da arte, baseada na exploração do inconsciente – caminho de expressão não verbal, próprio para transtornos de ordem psíquica –, é referência até hoje no Brasil e no exterior.

Graças ao trabalho da psiquiatra, foram revelados grandes nomes das artes plásticas, como Emydgio de Barros, Raphael Domingues, Lucio Noeman e Fernando Diniz. E o trabalho foi coroado com o surgimento do Museu da Imagem do Inconsciente, fundado em 1952. De fama internacional, o espaço expõe os trabalhos dos pacientes da Drª Nise e possui mais de 350 mil obras em seu acervo.

A depressão também é um transtorno mental e afeta 4,4% da população mundial e 5,8% dos brasileiros, segundo dados da OMS. É tratável, porém, há muita relutância em aceitar ser diagnosticado com a doença. Faz parte da prescrição médica encontrar uma válvula de escape e fazer arte se enquadra nessa posologia.



O caso Jim Carrey (I needed color)

 

Cathriona White, ex-namorada do ator Jim Carrey (para mim um dos maiores comediantes de Hollywood na atualidade), se suicidou em 2015 e o ator tomou para si a culpa pela morte da amada (com a ajuda da mãe da garota que o responsabilizou, judicialmente, por negligência) e pausou a carreira artística, pela menos a cinematográfica.

Desde criança, Carrey dividia seu tempo entre encenar, escrever e desenhar, mas foi de seis anos para cá que passou a pintar e esculpir como forma de “curar o coração”. Sentindo-se culpado pela morte da Cathriona, diz que a arte o ajudou a perdoar a si mesmo. A sua evolução como artista plástico acompanhou a evolução de sua cura. Prova dessa evolução é a percepção de que suas pinturas estavam muito sombrias e que o turquesa havia se tornado uma cor trivial para sua obra. “Dá para saber o que eu amo pelas cores das pinturas. dá para saber como é minha vida íntima pela obscuridade de algumas. E dá para saber o que eu quero pelo brilho dos quadros.” de novo, arte como expressão e comunicação. (Jim Carrey em I needed color)

I need color, é um documentário lançado esse ano que traz o Jim carrey artista plástico ao conhecimento do público.  No vídeo o ator demonstra como a arte atua como linguagem de expressão. Confessa não vê-la como uma forma absoluta e justificável a todo momento. “Eu não sei o que a pintura me ensina, eu sei que ela me liberta. Me liberta do futuro, me liberta do passado. Me liberta do arrependimento, me liberta da preocupação.”(Jim Carrey em I needed color)

Quando se utiliza da arte como cura para uma enfermidade, descobre-se que não é o autor que conduz a criação, mas a obra que imprime o autor em suas cores e formas. “(...) você nunca sabe o que uma escultura ou pintura significa em sua totalidade. Você acha que sabe. Na maioria das vezes eu começo com um plano e então, um ano depois, eu percebo que a pintura estava me dizendo o que eu precisava saber de mim mesmo no ano anterior.” (Jim Carrey em I needed color)

Abaixo o documentário I needed color disponível no Youtube.

 

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Jim Carrey e sua arte

 

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