ColunistasCOLUNISTAS

Davi Junior

Autor: Davi Junior

TechniAtto: o teatro jundiaiense nunca foi tão doce!

24/12/2011 - São Roque - SP

Luzes ambientadas. Poltrona confortável. A ansiedade paira nos rosto de pais, alunos, amigos e demais espectadores. No palco apenas um telão apresentando uma gigantesca construção em ângulos dinâmicos. Por toda a platéia, uma música que deixa o clima cheio de fantasia e apreensão. Apagam-se as luzes após as considerações dos diretores. O público é apresentado ao inocente Charlie, sua amorosa família e o curioso Willy Wonka. É dado início a um dos maiores espetáculos já produzidos por uma companhia de teatro jundiaiense. Bem-vindo A Fantástica Fábrica de Chocolate.

“O ANFITEATRO NUNCA FOI TÃO DOCE”

Foi com essa frase singela, porém cheia de sabor, que os alunos das escolas e faculdades Padre Anchieta tiveram seu primeiro contato com a peça que fez todos rirem, se divertirem e se emocionarem, tanto pela performance dos atores que surpreendeu a todos os presentes durante as duas apresentações como pela adaptação tão criativa e bem elaborada como foi. O slogan acima não foi só um chamariz para um evento escolar, foi surpreendido mais do que bem produida pela Cia TechniAtto, que assina a peça.

A TechniAtto é uma companhia de teatro jundiaiense que existe há três, mas foi após uma parceria com as escolas e faculdades Padre Anchieta é que a companhia passou a chamar a atenção de todos os entusiastas da arte em Jundiaí.

Desde 2010, a companhia ficou responsável pelo curso de extensão em artes cênicas oferecido gratuitamente aos alunos de graduação do Ensino Superior e Ensino Médio da instituição. A iniciativa deu tão certo que já reune mais de 40 alunos e duas peças em seu port-fólio.

A primeira, Alice no País das Maravilhas, foi encenada pela primeira vez no ano passado e ultrapassou as barreiras do UniAnchieta, sendo apresentada na Sala Glória Rocha em junho desse e levada a um flash-mob no Parque da Cidade em outubro.

No comando de toda essa turma está Natalia “Nhoc” Carmelo que não pode ter escolhido citação melhor para dar início a primeira apresentação de A Fantástic Fábrica de Chocolate: Somos mais do MIL, somo UM.

FÁBRICA DE TALENTOS

Caiu do Umpa-Lumpa quem imaginou que o que encontraria no anfiteatro do Unianchieta nos dias 24 e 29 de novembro seria uma simples peça escolar. Quem esteve presente pode acompanhar uma produção profissional, com atores cheios de talento e uma sede de espetáculo surprendente.

Do sonho ao pessimismo: os quatro avós de Charlie compõem um mix de personalidades que se completam.

Logo na porta de entrada do anfiteatro do Uniachieta já era possível observar a criatividade da companhia. Assim como acontece em todo local de grandes apresentações artísticas, era possível ver um corinthiano cheio de gírias e fala mansa vendendo todo tipo de produtos que ele trouxe de “longe”. Entre o itens mais inusitados (e desejados!), havia os tabletes de chocolate Wonka. O corinthiano interagia com o público, fez bizarrices no palco, chamou a atenção do diretores e pouco antes do início da peça, foi expulso do local. Essa ação foi uma ação genial da companhia pois além de entreter o público até o início da peça ainda mostrava um pouco do talento que viria logo a seguir.

A Fantástica Fábrica de Chocolate é um clássico dos cinemas, não tanto por sua primeira versão nos anos 70, mas pela excelente produção e direção que Tim Burton produziu nos anos 2.000, seguindo fielmente a história original escrita por Roald Dahl e acrescentando detalhes que só o diretor é capaz e fazer. Assim, adaptar o filme para uma peça não é tarefa para poucos, mas a TechniAtto se saiu muito bem.

Logo após um vídeo para ambientar o clima de cidade grande e a pobreza da família de Charlie, o garoto sonhador que só come chocolates Wonka uma vez por ano, o público conhece alguns dos personagens mais carismáticos de toda a peça: os quatro avós de Charlie que não conseguem levantar da cama devido a idade avançada.

Enquanto o avô José (Marco Majer) é atencioso, esperançoso e cheio de vontade de contar histórias, o avô Jorge (Willian Penna) é o seu oposto, sempre pessimista e vendo as coisas pelo pior ângulo. No meio dos dois, as avós Josefina (Aine Toledo) e a avó Jorgina (Stephanie Leite) fazem o “meio-campo” sempre ponderando entre sonho e realidade. A organização dos atores no palco era proposital para que a personalidade dos quatro ficassem claramente expostas.

O pai de Michael Teeve se assusta quando o filho tem seu tamanho reduzido devido a sua irresponsabilidade.

Para apresentar os vencedores da promoção relizada por Willy Wonka para a visita até a sua fábrica, a Techniatto se utilizou de um recurso interessante, parodiado do original, mas com uma pegada mais brasileira, misturando o pessoal e o profissional do repórter “The Flash” (Guilherme Bourcheidt) e do âncora (Kleber Áqua) que trocavam disputas profissionais, distrações e conversas paralelas com os pais dos vencedores.

CHEGA O ANFITRIÃO

Passaram-se 40 minutos de peça e o público está ansioso para ver Willy Wonka de perto. Afinal, toda a história do personagem foi contada pelo vovô José, todos admiram e gostam dele apesar das suas excêntricidades, mas o público só tinha uma leve lembrança de sua figura devido a suas rápidas aparições nos vídeos apresentados.

A chegada de Willy Wonka não poderia ter sido mais suntuosa. Caminhando levemente pelos degraus do anfiteatro, o personagem surpreendeu a quem assistia por quebrar o esquema de entrada e saída dos atores que estava sendo feita até o momento.

A visita pela fábrica não poderia ter sido menos criativa e a cada sala que as crianças conheciam, uma nova decoração ia surgindo. Mas o destaque foi para as danças dos Umpa-Lumpas, sempre seguidas de uma marcha para acompanhar a saída de palco das quatro crianças mal comportadas. Cada marcha militar foi formatada para evidenciar os erros que os pais de Violeta Chataclete (Julia e Leticia Aleixo), Augusto dos Santos (Breno Souza Gola), Verônica Assalt (Vanessa Belotto) e Michel Teeve (Anderson Zanela) em sua educação.

O contraponto gerado por cada canção foi genial, como numa soma de 1+1= assim como a educação que os pais dos quatro visitantes da fábrica era falho pela falta de rigidez, a marcha militar representa exatamente a total inflexibilidade de uma educação também viciosa. Esse conflito contribuiu não só para a reflexão da mensagem da peça, mas como também para salientar como mesmo uma vida cheia de privações como a de Charlie e sua família poderia trazer o elemento essencial para a educação de qualquer um: amor.

O abraço final de Charlie, Wonka e seu pai dentista.

A CONTRUÇÃO DA MENSAGEM

E não é a toa que a marcha dos Umpa-Lumpas é estritamente militar. Convivendo com Willy Wonka, seria natural que os homenzinhos da inexistente terra do Acre (!) absorvessem traços da personalidade do chocolateiro. Assim como os Umpa-Lump herdaram a criatividade e a habilidade de Willy Wonka, eles também acabaram por absorver o temperamento militar que Wonka recebeu de seu pai dentista e que mesmo sem saber, aplicava a si e a sua fábrica.

Para contar a a história de Wonka, a parte alta do palco foi utilizada para mostrar o Willy cheio de cáries e seus conflitos com o pai. Destaque total para os berros rigorosos e excessivamento ásperos que o pai (Giacomo Biaggio) griatava em palco. Se algum pai presente na platéia já agiu assim (ou próximo disso) com um de seus filhos, certamente, nunca mais vai fazer algo ão insensato.

O arremate da peça vem como um bilhete dourado aos olhos dos espectadores: Charlie, após desistir de trocar a vida com sua família para ser o herdeiro de Willy Wonka, ajuda o chocolateiro a encontrar com o pai que ele não via a anos, mostrado que tolerância, compreensão e cuidado são só alguns dos pontos que devem ser levados em consideração em uma família que presa pelo amor e o respeito as diferenças de cada um.

A ASCENSÃO

Impossível não aplaudir de pé uma peça tão bem construída em tecnica e performance. O ator Ricardo Meirelles deu baile conduzindo a peça e as diversas passagens da peça dentro da fábrica de chocolate como Willy Wonka e Marco Majer merece destaque total pelo tom de voz tão natural e sincero do avô de Charlie que comoveu a todos, além de suas dancinhas inusitadas.

O elenco da peça somou mais de 35 atores!

Quem saiu do anfiteatro nas duas noites de apresentação ainda levou um brinde: de agora em diante não será mais possível disvincular o rosto inocente e sincero do ator Lucas Rodrigues do personagem Charlie. O laço que a figura do ator criada com o personagem foi tão perfeita que será dificil assitir aos filmes e se surpreender ao não encotrar o rosto do ator no DVD.

Durante o encerramento, ao se deparar com os mais de 35 atores e pessoal da técnica a mensagem que se leva é a de superação, estima e o sentimento de torcida para que a Cia. TechniAtto continu e a crescer e a levar mensagens tão bonitas e bem construídas para o público jundiaiense e alce vôos ainda mais altos, conquistando platéias por todos os cantos desse planeta, desde a Broadway até a Lumpalândia.

Compartilhe no Whatsapp