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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Vidas de domingo

12/11/2017 - São Roque - SP

Vidas de domingo permanecem insólitas como os prazeres das leituras que encantam e não nos deixam desvencilhar. Cantando o domingo como a morena que me olhou nos olhos e logo partiu. O remanso da saudade que entra pela janela, acionando memórias doídas. A solidão do final de tarde de domingo, que vem brindar nossas arrogâncias e mostrar que, embora cercados, ao final, sempre estamos a sós.

Vidas de domingo são roteiros melancólicos de paixões não correspondidas, de pretensões não finalizadas e de todas as correrias sem sentido. As horas de domingo passam numa velocidade tão particular que, por instantes, parecem sugerir a eternidade de alguns momentos, como se permitissem, por alguns instantes, sentir cheiros que sabemos que nunca mais sentiremos.

As vidas de domingo parecem ser pequenas agora, como se soprassem no ouvido o fim. Como se mostrassem que o final pode estar logo ali. As mãos da sorte carregam os dias, e elas são escorregadias. Sensíveis e surpreendentes. Ao menor descuido, transformam a eternidade num sopro suave de saudade e de adeus. Nos tira pessoas e nos mostra o quão arrogante somos ao achar sermos donos da verdade.

Na janela do meu apartamento, emano meus pensamentos como quem deposita no universo todas as expectativas que não se pode depositar sobre ninguém. Ao menor descuido, supervalorizamos existências e, distraídos, não notamos aquelas que sempre estiveram ao lado. Por isso, talvez, as vidas de domingo sejam tão paradoxalmente importantes e lentas. Suaves e ásperas. Um ecótono entre a alegria de um sábado à noite e a melancolia de uma segunda pela manhã.

 

THIANE ÁVILA.

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