ColunistasCOLUNISTAS

Albertino Lima Ribeiro

Autor: Albertino Lima Ribeiro

Políticas afirmativas e a Consciência Negra

18/11/2017 - São Roque - SP

O dia 20 de novembro, dia em que vários municípios brasileiros comemoram o dia da consciência negra, dentre eles o município de Jundiaí que empresta o nome a este destacado jornal, deve servir para que a sociedade brasileira reflita sobre suas atitudes perante o povo negro.

É inaceitável uma nação formada por diferentes povos, cuja maioria é preta e parda, discriminar um ser humano por causa da cor de sua pele, negando nossa própria raiz  miscigênica.

O Brasil, mais do que qualquer outra nação, deveria ter um olhar acolhedor e integrador e não uma visão  míope e mesquinha olhando para detalhes insignificantes e reducionistas que atrelam o valor de um ser humano a pequenas diferenças, seja de raça, cor, nacionalidade ou sexo.

Há 62 anos, um evento emblemático levou os negros americanos à lutarem pelos seus direitos. Refiro-me a atitude de Rosa Parkes, uma costureira americana que se recusou a ceder lugar no ônibus a um homem branco. Sem saber, Parkes deu início a luta contra a segregação racial nos estados unidos.

A luta do povo negro americano deu resultado, pois em 1961, o presidente John F Kennedy deu início às políticas de ações afirmativas que foram ganhando força com o passar do tempo. Graças  a essas políticas, Barak Obama anos mais tarde  entrou para a prestigiada universidade de Havard, onde cursou direito e mais tarde tornou-se presidente dos Estados Unidos da América.

Podemos perceber que as políticas afirmativas não são delírios de governos latinos americanos com tendências comunistas, pois estas nasceram há mais de 50 anos no auge da guerra fria em um país que via o comunismo como uma  ameaça à sua hegemonia econômica e bélica. Sendo assim, não foi algo gestado por um Bolchevique infiltrado no governo JFK e nem mesmo por um imigrante Bolivariano que naquela época ja pretendia o “green card” .

 Contudo, no Brasil, onde políticas dessa magnitude deveriam encontrar um ambiente ideal para serem implementadas, assistimos vozes raivosas em todas as camadas da sociedade, lutando pelo fim das cotas para negros. Esses Ignoram as desvantagens sociais e econômicas históricas que esses cidadãos enfrentam para lutarem em condições de igualdade com os demais. Segundo Aristóteles, devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais. Seu objetivo nessa frase não foi acentuar a discriminação tal como ocorre no Brasil, mas foi para promover a integração da sociedade.

O discurso daqueles que militam contra as politicas afirmativas  consegue adeptos até mesmo entre os negros de baixa renda que se sentem inferiorizados só em pensar na possibilidade de ouvirem julgamentos que depreciem o seu êxito no ingresso de uma universidade ou concurso público. Muitos preferem até mesmo ficar de fora de certames que garantam as vagas na forma da lei.

 Barak Obama não tem vergonha de ter sido cotista de Havard. Ele não se sentiu diminuído, mas simplesmente abraçou a oportunidade e trilhou uma carreira brilhante.

Nesse momento, várias ações encontram-se  no STF, capitaneadas por partidos políticos, pedindo o fim do sistema de cotas, alegando sua inconstitucionalidade. Por que temos esse ranço tão egoísta? O que há no DNA da alma da nossa sociedade que faz do Brasil um palco de tanta insensibilidade em relação aqueles que continuam sendo injustiçados mesmo 130 anos depois da Lei áurea ?

É preciso darmos  mais um passo em direção à civilidade, permitindo que todos tenham oportunidades de lutar pela concretização dos seus sonhos. "Sim nós podemos"!

“A mudança apenas acontece quando pessoas comuns se envolvem, se comprometem e se unem para exigi-la. Nossa democracia não irá funcionar sem a noção de que todos tenham oportunidades” – Barak Obama.

Compartilhe no Whatsapp