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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

A vida é um castelo de areia

10/4/2018 - São Roque - SP

Ela renasce das cinzas, refazendo a liga perdida. Encontrando um novo ponto que não comece de onde parou. Que pare de começar por onde tudo começou. Talvez seja uma nostalgia de futuro ou uma memória ressignificada. Tudo inventado pelo bem da saúde e pela sobrevivência sem sobrevida. Sem ser sobrecarregada. Apenas a leveza das reconfigurações sobre o que pensar do amor. Sobre como viver o amor. Sobre como não querer o mesmo amor.

Aos olhos leigos, uma mulher inconstante e ingênua. Um sorriso de orelha a orelha que desenha as armadilhas da própria insegurança. Já não pensa sobre o que pensam, apenas lamenta pelos que não quiseram ficar. Ela sempre soube que não seria ela, mas nunca cogitou ir embora. Teve de ir. Com dor no peito, colocou na mala os cacos das relações quebradas, certificando-se do amor no fundo falso da bolsa. Sempre leva por precaução, pois não aprende. A moça não entende, mas teve a sorte de ser amada gratuitamente. Ela leva o peso sozinha.

Na estrada, dedilha o vento como quem toca a alma do tempo. Conversa com as pedras para entender os obstáculos, mas não reclama ter de desviar. Tem conhecido novos trajetos ao percorrer outros caminhos. Não seguir o esperado tem disso: descobertas. Certo dia, conheceu outra moça e até encantou-se pelos seus longos cabelos e pelo olhar que come. Comeram-se com os olhos. Amaram-se para que deixassem ir. Ela não quer um novo amor, mas um novo sentido para o amar. Já não procura mais a pessoa que ama, mas busca o amor que pode dar para cada pessoa. Tanta energia posta em uma única pessoa é arriscado demais. A moça nunca quis aproveitar dessa energia. Hoje ela tem noção do quanto poderia ter distribuído desse amor pra tantos desamados transeuntes. Tanta gente precisando ser amada, e ela colocando todo o seu amor justamente em quem nunca quis receber.

Ela foi criada para morar num castelo, com seus cabelos trançados e o vestido ornamentando à espera do príncipe encantado. O problema é que ela tem mania de semiótica, e sabe ser tudo uma questão de ponto de vista. Reconheceu o esforço que fizeram para que ela subisse em seu castelo, então optou por um de areia. Ao invés do cabelo, trançou as pernas no balanço da própria liberdade, abrindo mão do príncipe para dividir a majestade com outra majestade. Com outra mulher de verdade.

 

THIANE ÁVILA.

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