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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Conflitos

11/4/2018 - São Roque - SP

O barulho das sirenes tumultua. As grades do sistema sufocam, e a cidade não facilita o olhar sobre o verde, sobre o céu e sobre todos os sentimentos que se hibridizam nessa dinâmica de dar sentido. Num piloto automático, acionamos as engrenagens da rotina e acumulamos de ansiedade os sonhos e as perspectivas sobre o próximo dia. Em cima de prioridades, corroemos os instintos e deixamos para depois o que só o agora pode dar.


Dores sublimadas, política corrompida e o imaginário social sobre o que pensar sobre o justo e sobre até que ponto o negligenciar se faz como única alternativa. Subalternos das identidades do sistema, subjugamos a própria subjetividade em detrimento de uma máquina mortífera que vocifera as ordens para não morrer de fome. De sede. De tristeza e de agonia. Somos a agonia rebelde de uma revolução guardada num grande aquário submisso, pronto a respeitar o tempo que não temos para a virtude do que não acreditamos. Mas tudo embasado no argumento de mudança na hora certa - sem perceber que o tempo somos nós quem fazemos.


No recorte cultural de uma estrutura semianalfabeta frente ao próprio panorama, damos margem às leituras enquadradas de uma teoria ultrapassada, mas posta em evidência como se tivesse sido atualizada. As justiças parciais e os cânones legislativos que não respeitam a própria harmonia coletiva. Não há coletividade quando usurpamos as fronteiras de um ser que é diferente, tendo como base a arrogância de uma verdade intersticial e unitária. Construímos universalismos numa lógica subversa ao bem comum, colocando no discurso a práxis de uma profissão que não nos corresponde, mas nos “dignifica”.


Os carros passam a todo o vapor como se, ao final, fôssemos chegar a um lugar diferente daquele que já estamos. Dados, recursivamente, numa realidade promíscua de significados, vangloriamos a linearidade como se fôssemos filhos da dialogia sem dialética. Da retórica sem razão de ser. Não discutimos, mas nos debatemos. Não trocamos, mas permutamos a verdade como único meio de superar os que vieram antes - sem perceber o ciclismo histórico e o próprio retrocesso que transcende o carinho maternal que sussurra em nossos ouvidos um “faça a diferença” sem que, possamos, de fato, fazer o diferente da forma como acreditamos.


As crises emancipatórias nada mais são do que uma incompreensão sobre a diversidade conceitual. Sobre a prerrogativa de não conseguir respirar o ar que se respira, utilizando tubos de oxigênio industrializados que nos forçam a usar sob a justificativa de serem o único método de sobreviver. Sobre viver onde a opção mais amena é subverter sutilmente ou gritar aos quatro ventos a revolução num lugar de cartas dadas. Num pário de brigas de gente grande, inserido numa realidade em que o melhor não apenas vence, mas tende a silenciar os arredores. É notória a emergência ansiosa e desigual sobre as exigências que não nos cabem, mas que são colocadas no esqueleto mesmo assim. Quebram-se os ossos, mas não se levam os moldes. E a recíproca nunca existe.

 

THIANE ÁVILA.

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