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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

A gente pode substituir

17/4/2018 - São Roque - SP

E se a gente substituísse a loucura da rotina pela paz da novidade. A correria em demasia pelo significado da própria verdade. Se substituíssemos o taquicardia da ansiedade pelo sentido da palpitação, enxergando em cada nervo o interstício da própria remissão. Se substituíssemos a defesa pela entrega e a cobrança pela análise. Se inferíssemos o que nos agrega e déssemos fim ao que só alarde.

E se a gente substituísse o sistema pela estratégia e os planos pelos sentimentos. Se infligíssemos as normas ao quebrar os paradigmas que ninguém aguenta, mas pelos quais já acordamos nos remoendo. Se comêssemos melhor ao invés de sobreviver com os pratos ligeiros, enxergando na comida o combustível para dar seguimento ao que nos alimenta por dentro. Se largássemos a lógica e déssemos as mãos ao intuito, desprendendo o pensamento das retóricas de quem quer tudo como sinônimo apenas de um muito.

Se a quantidade não importasse e se o choro fosse relevante. Se não passássemos despercebendo o outro apenas por ele ser inconstante. Se os valores não fossem moedas e se as moedas não dessem lucro. Talvez a nossa troca pudesse ser um pouco mais etérea, subvertendo essa ambição pelo fortuito. Se as mesas fossem mais cheias de gente e com menos necessidade de afirmação. Assim quem sabe o boteco pudesse ser um codinome para quem quer, de fato, viver uma outra experienciação.

E se não precisássemos esperar a folga para retomar o fôlego, colocando no mesmo ofício do dia a dia a chama que acende os sentidos para o resto todo. Quem sabe assim as relações fossem mais significativas, e as pessoas não fossem apenas relevadas. Mais lugares para aproveitar a preguiça ao invés de deitar na cama e ter apenas o sono pesado como resposta da falta de energia diária. Se ressignificássemos o descanso não como uma recompensa de um dia tumultuado, transformando o ato de fechar os olhos numa experiência de retornar às memórias que, pelo pouco tempo do dia, não conseguimos valorizar da maneira infantil creditada aos que são fracos.

E se substituíssemos a percepção pejorativa da mudança em um argumento de melhora. Se deixássemos de lado as próprias certezas para tentar enxergar o outro lado da história. Se fôssemos capazes de entender nossas angústias e não sofrêssemos por buscas em momentos errados. Sem a exigência de dar o nome certo a tudo, mas intuindo, em cada início, o momentâneo e verdadeiro significado.

Se jogássemos pela janela as máscaras e falássemos mais a verdade. Talvez sem contornar o que entendem por destino, mas que, em tese, é apenas uma resposta ao que foi defendido como mais uma fase. Talvez, um dia, se substituirmos a arrogância pela leveza das sensações conseguiremos atingir, num outro nível, o princípio ativo para não viver dentro dos padrões.

 

THIANE ÁVILA.

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