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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Onde foi que nos perdemos tanto?

28/5/2018 - São Roque - SP

Estou à procura de versos inversos aos que, confesso, tenho feito nos últimos dias. As rimas engessadas com o engasgo da garganta, quase rendidas à desesperança, ouvindo dos fortes um clamor hipócrita que, justificado às tortas, emancipa os fracos. Hoje, na sarjeta das três da tarde, sentei na esquina e, como há muito não fazia, parei com meu bloco, escrevendo à lápis, a rotina desinteressante dos passantes de hora extra no calor fora de época.

Subscrevi no roteiro enviesado uma subcultura que, de fato, qualifica os fracos, mas subjuguei a temperança pela fila dos combustíveis. Liquidei o embargo com uma criança em plena cena do crime: brigavam pelo seu lugar ao fazer contingência ao maquinário. Enxerguei, naquele momento, um monte de operário simbolicamente queimando seu salário. Despejando, com a raiva, a desinformação sobre as circunstâncias. Bradando aos quatro ventos a necessidade de uma intervenção, de uma nova e verdadeira aliança – enquanto, solenemente, os outros, silenciados, seguiam a marcha reta de um sistema oblíquo e defasado. Só faltava iniciar o hino para aqueles homens, inimigos do lendário "comunismo", solucionarem, com tiros, o tal sistema falho.

Olhando, parada, aquelas horas arrastadas, calculei mentalmente a alíquota tributária. Somei o tempo do dia ao tempo de vida desperdiçada. O resultado, escamoteado, revelou a origem sucateada de um sistema que envelhece ao ritmo do aumento da expectativa de vida. Reformem a previdência, reinaugurando as vias de morte para a servidão definitiva. Os trabalhos entristecidos, envergando as caricaturas. Um Senado representado – tão representativo quanto uma ditadura. Mas são os filhos da ordem que devem subjugar essa politicagem. Mal posso esperar pela hora da vigília à beira das guerrilhas por liberdade. Um sistema cicatrizado e sem memória é capaz de trucidar as novas gerações – recursivamente retroalimentado à cultura dos nossos eternos patrões.

Diálogos sem dialética para dicotomizar o que vem de uma estrutura amplamente binária. “Votemos os direitos cuja escolha é tudo ou nada”. De consequências repetidas o povo aprende a sucumbir. Se não é pela conversa, que seja pelo exemplo fracassado daqueles que não souberam ouvir. Tiremos o pensamento e a filosofia das casas e das escolas. Não pensem em crise, trabalhem. No fim, acaba por servir a nação que não faz perguntas e ainda quer respostas.

THIANE ÁVILA.

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