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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Prerrogativas de nós mesmos

8/8/2019 - São Roque - SP

Dos processos mais interessantes de se observar, está o das prerrogativas. A necessidade incessante que criamos sobre explicar, para nós mesmos, os porquês do que sentimos. As sensações do que pensamos e os pensamentos que construímos sobre o que desejamos. A potência dos objetivos é mascarada, a todo o tempo, com o excesso de justificativas para convencer nosso próprio íntimo acerca da validade das supostas bobagens que imaginamos.

 

O imaginário é uma reserva infinita de noções associativas sobre as conexões que estabelecemos. Como seres supostamente limitados, não entendemos a imensidão da capacidade que temos de dissociar a linearidade aprendida desde o berço. Quando o pensamento escapa o terreno cartesiano, preocupamo-nos com nossa saúde mental. A regra é clara: só pertence quem sucumbe.

 

Todas as presunções de felicidades estão pavimentadas nas certezas sobre um óbvio inventado. Um significado imposto aos ritmos plurais do que, de forma integral, ninguém conhece ser. Pobres coitados aqueles que não conseguem ser nenhum pouco. Possuem cadeira marcada na bancada dos réus, sem direito de defesa diante à popularidade convencida dos sentidos universais.

 

Nossos passos precisam de desenho, e nossos motivos precisam de lógica. A caminhada, apesar de não conseguir desprender-se dos desvios, teima em voltar à linha definida. Uma falta de teimosia cuidadosamente domesticada para servir às necessidades de autocobrança e insatisfação. É no mínimo bizarro pensar que a agenda de nossas vidas já vêm com as primeiras datas demarcadas. Sem opção de decidir, é preciso apenas que assinemos embaixo para a evolução do destino. O nosso destino.

 

Aprendemos verdades únicas sobre disciplina e realização. Sucesso e conquistas. É no mínimo estranho pensar que alguém poderia responder que o seu sonho não envolve nada do que esperamos como resposta. Ditam loucos os que afirmam saber voar, e não admitem expressões tão altas a ponto de ultrapassar os roteiros da “felicidade coletiva”. 

 

No fundo, as prerrogativas são guerras que travamos contra nós mesmos. O ócio odiado é a maneira mais perversa de entender que, cada vez mais, nos infiltramos em uma dinâmica corroborada pela própria sociedade ao ditar o que faz ou não sentido. Honestamente, sinto pena dos sonhos marginalizados e das vozes abafadas pelo conceito viciado de educação. Os homens lá de cima que não me escutem, mas tenho inclinações ao descompromisso e à falta de sentido. Ter por perto os alienados de precisão é das metáforas mais excitantes para continuar existindo. E escolhendo quem deve existir perto de nós. 

 

THIANE ÁVILA.

 

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