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Davi Junior

Autor: Davi Junior

O Caderno da Morte: animação live-action no palco da Sala Glória Rocha!

12/6/2012 - São Roque - SP

Mesmo para o jundiaiene comum que passava pela Rua Barão de Jundiaí no centro da cidade, a movimentação incomum próximo do Centro das Artes já era o indicativo que algo diferente acontecia na cidade naquele dia 09 de junho. Com roupas coloridas ou cheias de preto, toucas de personagens de desenhos animados ou camisetas estampadas com super heróis, o público indicava que uma peça teatral incomum para a cidade estava prestes a começar. Nos bastidores, muita maquiagem, preparação de luzes e trilha sonora, revisão dos pontos da cena e muitas trocas de roupa davam vida a mais uma apresentação de O Caderno da Morte.

A PEÇA

No mundo dos admiradores  entusiastas da cultura pop japonesa é muito fácil encontrar fãs que, por identificação ou apreciação, se vestem com as mesmas roupas que seus personagens favoritos. Nos eventos que rúnem esse tipo de fã não é dificil encontrar performances  destes fãs, que encenam curtas cenas de seus animes, mangás e games preferidos.

Porém, nunca antes uma companhia de teatro ousou se utilizar das criações nipônicas para criar peças profissionais do gênero, levando a emoção e os personagens cativantes do oriente até os teatros. Pelo menos não até a Cia Zero Zero, da cidade de São Paulo, criar O Caderno da Morte.

Baseada no anime/mangá Death Note (leia a resenha aqui) de  Tsugumi Ōba e Takeshi Obata, a companhia foi a primeira (e até o momento a única) a conseguir uma autorização dos autores e da editora japonesa para adaptar a história que é sucesso nos quadrinhos desde o seu lançamento para os palcos do teatro.

Em Jundiaí a peça chegou até a Sala Glória Rocha através do blog O Bonde Andando, que a mais de 2 anos tentava, junto da Prefeitura Municipal da cidade trazer para Jundiaí a peça que repercute em todos os lugares por qual passa. E não foi diferente em Jundiaí.

Todos de pé com a chegada de L!

A ADAPTAÇÃO

Como adaptar um mangá de mais de 2000 páginas de mangá para um teatro de duas horas? Como adaptar 37 episódios com inúmeras cenas  sequências ardilosas para um palco como o do Glória Rocha? Essas eram as perguntas que mais nortearam as cabeças do público que esperava ansioso o início do espetáculo.

Death Note é um thriller policial que reinventou a maneira como o Japão e mundo via o gênero de mangás shonen, gênero de mangá voltado para o adolescente masculino que geralmente vem recheado de nanquim espirrado decorando as inúmeras páginas de sangue das histórias. Levar a obra para o teatro não é só um trabalho difícil mas que lida com um grande número de fãs que vai cobrar qualidade no mesmo nível da obra original.

Com recursos interessantes e inusitados, que se utilizam de tvs, videos, projeções em cortinas e outros pequenos elementos presentes no mangá que não poderiam faltar (c0mo a escrivaninha de Light ou a mesa de doces de L), a companhia se utilizou de um elenco rotatório, que se alternava na atuação dos personagens para trazer todos os personagens mais relevantes de toda a história para os palcos.

Assim como na história original, o embate psicológico entre Light e L está presente e é o destaque da peça, o que possibilitou novaas sequências, diálogos inteligentes e um jogo de luzes que salientava a personalidade distinta de cada um dos personagens.

Para aproximar o público dos personagens, a Cia Zero Zero ainda criou vários diálogos que remetem ao Brasil, piadas com personalidades e lugares característicos. Para cativar, várias falas foram criadas para gerar gargalhadas, principalmente para Ryuk e L.

Instigante e amedrontador! L e Ryuk foram os destaques da peça!

A PERFORMANCE

Após soar a terceira campainha não tem mais volta, um caderno cai no palco e começa a história. É hora de acompanhar o trabalho dos atores, se emocionar com uma adaptação e compartilhar dos mesmo sentimentos que atores e fãs tiveram com Death Note.

Mas a surpresa geral acontece quando não se vêem atores entrando no palco. Com uma adaptação tão humana e ao mesmo tempo tão performática, não são atores que sobem ao palco, mas legítimos Light Yagami, Ryuk, L, Misa e Soichiro Yagami.

Sob a direção de Alice K, os cinco atores da companhia entraram em tal sintonia com os personagens que após o espetáculo muitos dos cacuetes dos atores acabaram se atrelando aos personagens originais, fazendo com que a obra original e a sua adaptação se completassem.

Se o destaque inicial fica por conta do ator que interpretou Ryuk, com sua gargalhada característica, efeitos 3D, maquiagem penetrante e uma curvatura que deu vida ao personagem de traço e tinta, a entrada de L em cena provou que os personagens cativantes não estavam restritos a figuras monstruosas super produzidas.

Com vestimentas simples, porém muito fiéis ao do original, o ator de L soube trazer todo o ar infantil do personagem ao mesmo tempo que mostrou para que o maior detetive do mundo viera.

O ator de Light, além de uma voz forte e marcante, provou ser, ao lado de L, uma figura mítica dos quadrinhos, que provoca reflexão e discussões infinitas sob a sua conduta, seja nos desenhos animados do Japão, seja nos palcos da Cia Zero Zero.

O APLAUSO

A qualidade vista em O Caderno da Morte merece um retorno em um palco maior, como o do teatro Polytheama, que não só abrigaria mais espectadores, já que na Sala Glória Rocha o teatro lotou, mas também daria condições para uma maior divulgação de um trabalho que prima pela excelência.

Ninguém esperava a máscara do L!

Não teve jeito, após duas horas de espetáculo, um novo final eletrizante, empolgante e mesmo que impossível no original, muito bem construído dentro da peça de teatro, a Cia Zero Zero foi aplaudida de pé por um Glória Rocha lotado, que prestigiou a peça, deu muitas gargalhadas com L, Ryuk e o inesperado senhor PenPen, ficou tenso nos diálogos mais eloquêntes entre L e Light e se emocionou com uma peça original, bem construída, com atores de primeira categoria e um espetáculo merecedor de um bis.

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