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Ângela Schiezari Garcia

Autor: Ângela Schiezari Garcia

Homenagem aos amigos Nêgo e Circe Bastos

27/6/2011 - São Roque - SP

É uma alegria muito grande homenagear duas figuras tão maravilhosas da história sanroquense e da história universal. Exemplos vivos precisam ser reverenciados sempre, a cada dia, pois eles nutrem de entusiasmo a vida e a família do cidadão em qualquer cidade, estado ou país.

Dona Circe e Seu Nêgo (assim que eu os chamava quando criança) eram amigos de minha mãe (Teresinha Schiezari Garcia) e passavam horas na calçada, em frente à nossa casa, conversando e dando boas gargalhadas. Nós, as crianças, também ríamos, mas não sabíamos o motivo de tanta alegria.


Ao organizar o evento “Arraial da Academia Prátik” na mesma rua e na mesma casa em que se encontravam, em tempos áureos, imediatamente tivemos a idéia desta homenagem e também a vontade de agradecer aos amigos, vizinhos e pessoas importantes, que fizeram parte de nossa formação e caráter. Imagens destes “flashes” piscavam em minha mente durante estes dias, num sentimento de profunda felicidade e nostalgia, motivo pelo qual me senti motivada a escrever este texto.

Hoje, dia 13 de junho de 2011 consegui uma entrevista descontraída com os dois irmãos Nêgo e Circe, com o objetivo de coletar mais informações que pudessem ser transcritas aos amigos, familiares, leitores e amantes de São Roque.

Em nossa conversa, Dona Circe falou sobre os bons vizinhos da Pedro Vaz, com tanto carinho, relembrou histórias de amizade e respeito entre os moradores, tão difíceis de serem vivenciadas nos dias atuais.

Referiu-se à sua maior alegria: união, amor e generosidade da família, dos treze irmãos, do marido Agenor, da filha, dos netos e da vida na casa da Vovó Leta, ponto de encontro dos amigos e familiares. Segundo as informações de Circe, a Vovó Leta foi a primeira festeira de São Roque e como doceira adorava fazer biscoitos de polvilho, marmelada e goiabada.

Quando perguntei sobre nosso amigo querido Zé do Nino, simplesmente diz-se orgulhosa de ser sua irmã, pelo caráter íntegro, honesto e prestativo, tanto quanto os demais familiares.

Circe, aos 95 anos sente que cumpriu a sua missão também como educadora e fala com amor e ternura de suas alunas, que a chamam até hoje de “a minha professora”. E completou: “No meu tempo, ensinar era fácil, pois as crianças já vinham educadas de casa, os pais davam muita importância à professora e esta relação harmoniosa de pais e professores é fundamental para um bom ensino”.

Seu Nêgo permaneceu o tempo todo ao lado da irmã, de mãos dadas e pouco entendia a nossa conversa, mas nos proporcionou momentos de muito humor e descontração, com seus gestos e caricaturas. Interrompia esporadicamente a conversa e dizia para ela: “Estava com tanta saudades de você...”

Rose, a enfermeira, relata ser um privilégio cuidar de uma pessoa saudável como ele, que mantém certa independência aos 99 anos e ainda interage de maneiras mais variadas e criativas com as pessoas. Lembrou-se ainda da convivência respeitosa dele com a esposa Nícea de Oliveira Bastos (in memorian) e mostrou as fotos do casal expostas sobre o móvel da sala.

As fotos da Revolução de 32, de que Nêgo participou estavam expostas e até o ano passado, ele comemorava todo dia 9 de julho, hasteando a bandeira da revolução, ao som da banda. Meu avô, Mário Schiezari  foi um de seus companheiros de lembranças; ambos passavam horas dialogando sobre questões políticas e patriotas. Eram eternos sonhadores espirituosos.

Nossa conversa interrompida pelo delicioso pudim de pão, servido pela Teresa Bastos Gomide, uma das filhas de Seu Nêgo, foi ainda motivo de mais lembranças. Delicioso pudim!

Enfim, esta tarde foi simplesmente inesquecível, como se o tempo tivesse parado e a vida pulsante desse-nos o poder da eternidade, numa terceira dimensão.

Algo tão mágico e emocionante para transformar em palavras...

A eles, estes heróis da vida e pela vida, queridos e amados por todos, agradecemos pelo exemplo de maravilhosos seres humanos que são e desejamos que sejam felizes, muito felizes.

Que possamos continuar esta tarefa de valorizar a família, as pessoas, a comunidade e os conteúdos humanitários.

Que possamos comemorar e homenagear tantos outros especiais formadores de opinião, de caráter, de famílias e assim seremos certamente cada dia melhores e mais felizes.

Muito obrigada por terem feito parte da nossa história. Este é o presente que compartilho e carrego em minha alma.  E é precioso demais para ficar escondido!

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