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Ângela Schiezari Garcia

Autor: Ângela Schiezari Garcia

“Histórias cruzadas” – ficção ou realidade?

14/2/2012 - São Roque - SP

As mais comoventes vivências do preconceito racial existente nos anos 60 foram relatadas no filme “Histórias Cruzadas”. O mesmo nos incentiva a uma reflexão aprofundada sobre as injustiças sociais e perseguições das mais variadas ordens, que acompanham a trajetória da história universal.

Retrata a vida de uma escritora inexperiente, representada pela atriz Emma Stone, jovem branca da elite americana, que decide escrever seu livro e investigar a vida das mulheres negras, relacionando-as ao trabalho realizado nas casas de brancos, cuidando de crianças, dedicando amor especial a elas, em detrimento ao amor dos filhos consangüíneos, deixados de lado, tantas vezes pela falta de tempo.

Uma das negras, personagem fantástica da história, representada pela atriz Viola Davis, concorrente ao 84º Oscar deste ano, em entrevista ao Jornal “O Estado de São Paulo” do dia 12 de fevereiro de 2012, relata que é  bom contar histórias de sua gente, e declara: “Todas nós afro-americanas temos histórias de injustiças e perseguições, mas também de união e solidariedade”.

Ao ler o jornal e assistir o filme, percebi alguns detalhes nos olhares dos personagens, nos gestos e nas sutilezas das situações; não queria acreditar que um dia, pudessem ser reais.

Lembrei-me do período em que estudava e tinha 6 anos de idade. Defendia meu amigo negro e magro em demasia, totalmente desprezado por todos da sala.  O comportamento de exclusão muito me incomodava.

 Nos anos seguintes presenciei histórias parecidas, ilustradas pela discriminação com os gordinhos, deficientes, os “diferentes”; ignorando o famoso “bullying”, tão  estudado pelos pesquisadores da educação.

Certa vez, ataquei alguns moleques em resposta aos comentários maldosos e às provocações insanas  presenciadas durante as atividades do recreio, considerado o momento de maior alegria para os alunos.

As memórias foram puxadas de meu inconsciente, no instante em que as cenas do filme apareciam. Não tinha controle, era como se um novelo de lã fosse desfeito e rolasse sobre uma superfície, desatando todos os nós.

Identificava-me com a escritora, pois sempre gostei de ouvir e de escrever histórias das pessoas como um hobby, prazer que alimento até hoje ao ouvir histórias de pessoas desconhecidas, de pessoas queridas, enfim, de GENTE.

O senso de humanidade de uma branca associado à coragem de tantas negras, em desbravar o mundo cruel de regras e preconceitos foi mostrado nas cenas, ora cômicas, ora trágicas.

Lágrimas escorriam em minha face e ao meu lado percebi também que uma adolescente, acompanhada por sua mãe e avós provavelmente percebia ou sentia sensações parecidas. Ela enxugava as lágrimas, enquanto a mãe explicava detalhes da história tentando acalmá-la.

Anônimos sofredores são todos aqueles que jamais desistem de seus sonhos, jamais permitem a insensatez e a maldade. Corajosos e guerreiros “botam a boca no trombone” em busca de paz. Tudo o que mais desejam é que a sabedoria comande a mente humana e que a cada dia mais homens se transformem em focos de luz e a espalhem pelos cantos da Terra.

A importância da valorização do ser humano, independente de credos, raças, situação econômica ou qualquer tipo de preconceito deve ser revista. E qual poderia ser a nossa colaboração para a minimização desse tipo de violência?

Foi o que pensei desde o momento em que relembrei situações reais, tristes e perigosas, que poderiam ter sido evitadas, compreendidas, transmutadas...

Precisamos fazer a nossa parte!

Temos um tempo para refletir, modificar e ajudar-nos uns aos outros.

Caso contrário, teremos a colheita do mau aprendizado e o que parecia uma brincadeira de moleques a gozar do que é incomum, passará a ser a mais triste recordação.

 

 

 

 

 

 

 

 

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