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Ângela Schiezari Garcia

Autor: Ângela Schiezari Garcia

Praça da Matriz, a alegria resgatada!

1/6/2012 - São Roque - SP

 

 

Há muito tempo não passava horas na Praça da Matriz. A vida corrida, os afazeres diários, enfim, todas aquelas desculpas de praxe que nos impedem de sentar por minutos para observar a cidade.

Lembro-me que quando criança permanecia sentada no banco, comendo pipoca e conversando com meu avô, após uma sessão de cinema, no Cine Central. Geralmente às sextas-feiras ou sábados, quando ele vinha de São Paulo com minha avó para nos visitar. O Popeye era a figura que me inspirava quando parava na frente daquele homem simpático a estourar as pipocas “mais gostosas do mundo”. Como me sentia feliz...

Todas as memórias passavam em minha cabeça enquanto organizava a nossa tenda de atendimento, às 07h30 do dia 30 de maio, conhecido internacionalmente como o Dia do Desafio. O objetivo do trabalho desse posto de atendimento montado pela Academia Prátik- Consciência do Movimento - era o de conscientizar as pessoas sobre a importância da prática da atividade física, esclarecer as principais dúvidas dos transeuntes e também realizar exercícios de ginástica postural, para aliviar as tensões e desconfortos do dia-a-dia.

A ideia do Dia do Desafio iniciou-se há mais de 15 anos em um país frio, em que as pessoas ficavam inativas por meses e atraiam para si os problemas mais variados de depressão e doenças provenientes da inatividade. Essa ideia foi difundida no mundo a ponto de chegar às cidades brasileiras e ganhar adeptos, no sentido de ajudar as pessoas  na busca de saúde, de bem-estar e de autoestima.

As atividades representativas em nosso município foram programadas pela Prefeitura da Estância Turística de São Roque e focaram todas as faixas etárias, em especial, os grupos de crianças acompanhadas por seus professores e coordenadores.

Entre uma conversa, uma orientação e um aceno às pessoas conhecidas, minha mente procurava processar a nostalgia que me invadia quando me deparava com os flashes de outros tempos. Ao mesmo tempo, escutava a conversa dos aposentados, um bêbado cantando músicas do Roberto Carlos para o seu cão vira-lata, protegido numa caixa de papelão, como uma casa pré-fabricada sobre um carrinho de pedreiro.

O poeta Leontino Correa sentou-se conosco para elucidar a vida na terrinha querida, e todas as lembranças felizes que teve ao lado dos amigos sanroquenses. Sua história interessante, pois trabalhava como marmoreiro e em determinado momento, mordido por um cão, perdera os movimentos das mãos e juntamente, o seu emprego. O fato obrigou-o a achar novos talentos para a sobrevivência junto à família.  E foi assim que descobriu a poesia. Passou a vendê-la nas ruas e a declamá-la para conseguir ajudar no sustento da família. O interessante que mesmo sendo natural de Porto Feliz, o amor e a gratidão pelo povo e pela cidade de São Roque é simplesmente admirável.

Pessoas paravam para fumar, dando a impressão até de que falavam sozinhas; outras apoiadas em suas bengalas, muletas ou num amigo, familiar ao certo, sentados e olhando ao longe, dispersos em seus pensamentos, transmitiam uma mescla de sentimentos, os quais me intrigavam.

Em várias ocasiões eu passava ao redor e os convidava a participar das brincadeiras, das danças, mas a timidez ou algum outro motivo não os deixava levantar, mesmo por vezes, com o sorriso nos lábios e nos olhos aquela informação de que “talvez eu pudesse fazer isso, talvez fosse divertido eu me levantar daqui”.

Quando as bexigas coloridas eram distribuídas e durante as brincadeiras lançadas ao alto, aí sim, a alegria parecia contagiar aquele lugar, para mim um pouco árido. Não sei se porque me faltava a figura de meu avô, das árvores, do pipoqueiro, do Cine Central, da vida de antigamente, ou porque via uma expressão triste nos olhos desses personagens, com os quais aprendi muito.

Ao acompanhar as bexigas coloridas e todos os olhares, pedi para o Universo que trouxesse de volta o colorido mágico de minhas histórias naquele local e que fizesse feliz todas aquelas pessoas desconhecidas, abstraídas e talvez, feridas em seus destinos.

No final da tarde, uma foto da Igreja da Matriz; ao fundo aquele céu arroxeado e o canto dos pássaros anunciando o término de nosso trabalho.

Sentei-me para contemplar os últimos minutos antes de desmontar a tenda e guardar os materiais e percebi que havia abraçado amigos que não via há mais de 10 anos, abraçado pessoas desconhecidas, crianças, enfim, que o dia realmente tinha valido a pena.

A garoa começava a respingar e então, tive a plena certeza que o desafio havia sido superado e que a alegria reinava em mim, e por consequência, naquele lugar tão abençoado.

 

Agradecimentos especiais - Balões São Roque- Latex

Ao amigo Darcy Gomide Junior, pelo empréstimo da barraca.

 

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