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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Desleitura dos dias

27/1/2015 - São Roque - SP

Anseio pelo encontro da quiromancia inversa. A desleitura do futuro. O desmembrar avessado dos dias. Um passado virado do avesso para a compreensão das desvivências.

Desler uma palavra para encontrar o seu significado ausente. A pronúncia errada que revela o antagonismo das intenções. A permutação autônoma de uma ordem imposta. Desimposta ordem por fim. 

A conversa entre o vento e a garoa, desmantelando a autocracia dos pássaros sobre as liberdades outonais. Injustas liberdades encarceradas pelo livre porvir. Engaioladas pelas armadilhas de truques de mestre. De maestria independente e subjetiva aos olhares escravos do sistema ordeiro fixado nas paredes da existência. Nos cárceres abertos.

Ler solidão para viver multidão. Um exercício aprazível aos direcionamentos das emoções, sujeitas a uma ordem intrínseca e desregrada. Subordinada unicamente aos anseios resguardados nas mentes empoeiradas de vidas cheias de vazio.

Um futuro guardado a sete chaves em um cofre de vácuo. Pronto, pois, para a imersão ou ausência de qualquer ameaça de ar. Qualquer tentativa de presente que ocupe um espaço destinado ao amanhã. Sem depois. Sem postergações.

Nem sempre se trata da inversão dos papéis. Não há sempre comutação de intentos. Há, sim, a criação de despapéis. A aceitação da falta de significado ou conturbação proposital de ideologias. Letras encarregadas de carregar o que bem entendem ou andarem sós. Andarilhas das desideias. 

Sem ordem de palavras para construir um enunciado. Sem limites para a trajetória e o alcance das ideias construídas em cima da chuva ou embaixo do sofá. Ínfimos espaços que aceitam o gotejar de existência são capazes de acumular nossas insanidades. Armazenar as loucuras santas da falta de imobilização. 

Talvez todo o sentido desse plano material não tenha sido descoberto pela demasia de razões. Explicando cada parte para compreender o todo. Compreendendo o todo para desmanchá-lo em partes.

Há partes sem explicação que explicam o todo. Porquês são retóricas de poesias. Respostas são tentativas frustradas de endeusar uma lógica arrependida do nascimento.

A origem do universo nada mais é do que a transgressão de sentidos. A capacidade da desleitura amedronta o excesso de panorama. A vida dos loucos que entendem de tudo é perfeitamente sustentada pelo inconverso da conversão. 

 

THIANE ÁVILA.

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