ColunistasCOLUNISTAS

Rogério de Souza

Autor: Rogério de Souza

A “tendência” Socialista em São Roque

30/9/2016 - São Roque - SP

No Brasil, partido político é um fenômeno de difícil compreensão. Além da quantidade, (atualmente são 35 legendas) a diversidade ideológica das agremiações e o fisiologismo confundem até mesmo os cidadãos mais esclarecidos. Nas últimas eleições presidenciais, os tradicionais balizadores das escolhas eleitorais como as noções de esquerda, centro, direita, conservador e progressista se embaraçaram de tal forma que o brasileiro não consegue mais distinguir quem é quem ou o quê.  Em outras palavras, mais surreal que o movimento cultural do Dadaísmo, as siglas políticas do país são verdadeiras sopas de letrinhas.

Nas eleições para a prefeitura de São Roque essa desordem partidária revela-se. Além de coligação entre partido considerado de centro com uma agremiação comunista que tem como marca a foice e o martelo, três dos seis postulantes ao cargo municipal máxima candidataram-se por legendas que têm a palavra socialismo no seu nome. Daí intuímos que a Terra do Vinho possui, no seu íntimo e de maneira inconsciente, uma vocação marxista-leninista do materialismo histórico-dialético.

Logo no capítulo I do estatuto do Partido Comunista do Brasil, o PCdoB, encontra-se os seguintes dizeres: “O Partido Comunista do Brasil luta contra a exploração e opressão capitalista e imperialista. Visa a conquista do poder político pelo proletariado e seus aliados, propugnando o socialismo científico. Tem como objetivo superior o comunismo”. Analisando a trajetória do candidato a prefeito da coligação com o PCdoB, conclui-se que o mesmo não concorda com “a conquista do poder político pelo proletariado e seus aliados”, talvez o poder para os aliados da classe proletária.

Atualmente a agremiação mais aguerrida e contestadora no Congresso Nacional, o Partido Socialismo e Liberdade, o PSOL, lançou, pela segunda vez, candidato à prefeitura de São Roque. Lendo o estatuto do partido, questionamos se o seu atual postulante pretende realmente seguir à risca aquele documento, especialmente o trecho que diz que o “Partido Socialismo e Liberdade desenvolverá ações com o objetivo de organizar e construir, junto com os trabalhadores do campo e da cidade, de todos os setores explorados, excluídos e oprimidos, bem como os estudantes, os pequenos produtores rurais e urbanos, a clareza acerca da necessidade histórica da construção de uma sociedade socialista, com ampla democracia para os trabalhadores, que assegure a liberdade de expressão política, cultural, artística, racial, sexual e religiosa, tal como está expressado no programa partidário”.

Com o lema “A nossa hora é agora”, o candidato do Partido Socialista Brasileiro, o PSB, aproxima-se, no seu plano de governo, mais do ideário de políticos liberais do que dos princípios do partido de Miguel Arraes que, no seu estatuto, diz que a agremiação objetiva “socializar os meios de produção considerados estratégicos e fundamentais ao desenvolvimento, social, cultural e da democracia, e a preservação da soberania nacional”.

O candidato do Partido Popular Socialista, o PPS (antigo Partidão, Partido Comunista Brasileiro, o PCB), poderia ser visto, neste contexto, como um socialista envergonhado, pois no seu próprio comitê de campanha não divulgou a palavra socialismo, destacando somente a sentença “partido decente”.

Brincadeiras à parte, a pequena São Roque está longe de se tornar uma municipalidade administrada por princípios socialistas. Na realidade, o micro universo de São Roque escancara um problema grave do país: o fisiologismo e a falta de clareza ideológica dos partidos políticos. Dessa forma, urge a concretização de uma reforma política. Ao contrário, assistiremos, por muitos anos, a junção esquizofrênica entre partidos/candidatos que defendem o livre mercado e as agremiações/políticos que propagam a participação efetiva do estado na sociedade. Salvador Dalí se surpreenderia com as combinações surreais dos partidos e políticos brasileiros e se divertiria com a probabilidade insólita do socialismo na tão capitalista São Roque.

Compartilhe no Whatsapp