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Ítalo Lima

Autor: Ítalo Lima

Uma carta endereçada a mim

10/8/2017 - São Roque - SP

Te escrevo esta carta pra dizer

Que os meus dias andam

Um tanto um pouco solitários

Que os momentos festivos escorreram

Pelas mãos nas horas fartas

Escrevo pra te dizer da minha falta de coragem

Ou do meu medo de assumir ao mundo

O meu desejo vivo e intenso por você

Te escrevo porque grito e calo num só instante

E a vizinhança não mais suporta o meu desespero

Te escrevo porque sinto frio e tremo

O carteiro já não sabe mais meu endereço

E a novo posição dos anfíbios vai modificar

As profecias dos versículos praguejados

Por teus lábios em voz rouca

Nas missas dominicais de novembro

Meus pés involuntários afagam um ao outro

Na incerteza de ensaiar passos largos

O barulho de pele aquecida não antecipa o teu retorno

Te escrevo porque minha casa é uma eterna porta aberta

Na parede de reboco há resquícios de nós dois

O chão encerado há sussurros e suores do nosso enlace torto

Meu peito despovoado de ti anuncia minha solidão

A aglomeração da espera prevalece em mim em desespero

Te escrevo porque estou em pedaços

Os mil cacos espalhados por toda casa apodrecem amiúde

Minha sede ambígua amanhece depois

Te escrevo porque dói saber que não fui porto

E meus pés cansados não me sustentam mais

Te escrevo porque esqueço que você já me fez sangrar

E os meus ais era motivo de coro no coral não ensaiado do meu coração

Escrevo esta carta endereçada a mim porque eu sei

Que não é o fim, que nada importa as feridas da partida

Se um dia você voltar de novo, eu te acolho.

Aqui, o meu abraço a mim. Até logo!

 

(Ítalo Lima)

 

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