Autor: Ítalo Lima
Enlouquecer de um jeito teso
De um jeito que você não me olhasse
Com os olhos tortos
E a vista grossa feito valente
Não me confundisse
Com os teus antepassados
Eu queria enlouquecer
Sem a necessidade
De uma camisa de força
Ou sem teus jeitos tensos
Me trancando no portão de casa
Eu queira enlouquecer
Sem fazer barulho
Sem a vizinhança me apontar
Os dedos podres
Ou quem sabe sem ensurdecer
A viela do soturno
Eu queria enlouquecer
De um jeito puro
No silêncio dos apavorados
Sem alertar as ambulâncias
No escuro grunhindo
O meu apavoro
Eu queria enlouquecer
Sem aviso preciso
Sem as costas lanhadas de agonia
Sem teu assobio de chamada
Eu queria enlouquecer
Com a voz rouca de desespero
Abusando teu nome na goela
Com a pele pingando em tontura
Sangrando quase raquítico
Eu queria enlouquecer
Desfalecido debaixo da cama
Sem tantos fogos de artifícios
Sem ter que alertar toda a polícia
Lacrimejando feito reboco
Soluçando bem longe da família
Eu queira enlouquecer
Distante do barulho da mobília
Adormecendo na escuridão do cômodo
Desejando por fim
No engasgo do silêncio
Devorar todos os desenganos
E ser para sempre no teu peito
Um escasso móvel em desuso.
Ítalo Lima