Autor: Ítalo Lima
"Posso conversar com você pessoalmente?"
Você me falou.
E nos encontramos.
Sem nenhum véu a nos cobrir os olhos.
Sem nenhum cinismo a nos cobrir as ventas.
"Por que você ainda escreve sobre mim?
Você perguntou.
Fiquei calado.
Eu não soube responder.
Todas as palavras erguidas, lembrei
Formavam teu nome.
A senha do wi-fi.
Minha tatuagem.
O muro pinchado da vizinha.
"Estou cansado de tudo isso"
Você me falou!
"Ex não é uma doença grave!"
Você destacou.
Eu sei, mas não escrevi para te machucar.
Mas machucou, sangrou.
E eu vi nos teus olhos algo doce e bom
Morrendo aos poucos
Para um jovem de quase 23 anos
Morrer não é o objetivo.
Desculpa eu assassinar assim
Um projeto de pele.
Não foi uma doença grave.
Nem engasgo.
Nem calamidade pública.
Aliás, não foi nada. Só amor.
"Você é tão inteligente"
Você me elogiou!
Eu nem reparei.
O sinal vermelho me faz
Parar depressa, menti!
"Não escreve mais para mim"
Você suplicou!
E eu entendi
O que disse a libélula.
Que desistiu do voo
Aos 23 anos
Para ser rinoceronte!
"Impossível alguém mudar assim"
Você me falou!
Eu nunca entendi bem
Sobre o que o vento me ensinou.
"É hora de seguir em frente"
Você me sugeriu!
E eu me transformei no rinoceronte
Que não entrega flores
E nem dança valsa.
"Não seja tão bruto assim"
Você me recomendou!
Eu obedeci.
E gritei pra libélula fugir
E ela nunca mais voou.
(Ítalo Lima)