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Thiane Ávila

Autor: Thiane Ávila

Contos de bar

10/12/2017 - São Roque - SP

Há coisas que parecem que nascem com a gente, tomam vida de forma independente e se qualificam ao seu bel-prazer. Existem siglas que têm origem grudada na língua, gírias que ninguém nos ensina e prazeres que não temos como evitar. Momentos que o corpo implora, sentimentos que a noite devora e histórias que só se contam em mesa de bar.

Minha rotina é lotada, sou mulher de poucas e de muitas palavras, o que faz com que nem todos entendam ou saiam ilesos quando optam por ficar. A escolha sobre os meus dias é sem consulta – já me disseram que sou remédio sem bula, somente vem escrito “perigo ao tomar”. Mas admito que gosto dessa levada, contando alguns dias com goles sutis de ressaca, daquelas que vêm para ensinar.

Venho de família de alma boêmia, filhos da noite e com o fígado preparado para aguentar toda a quantidade de cerveja, daquelas que sustentam as noites lotadas em que se é conhecida ao entrar em qualquer lugar. Todas as histórias de amores reprimidos, minha poesia com seu toque de sátira e lirismo, tudo escondido em cada gole por entre os olhares perdidos de boêmias que, como eu, só lembram a hora de entrar.

Sou amante das novidades, vivo contando as horas para quem consiga me tirar do eixo, debilitando a calmaria de dentro do peito com a incrível capacidade de me fazer querer apenas olhar. Não que meu controle dure muito tempo, mas é que tem pessoas que brilham quando a noite chega, tirando algumas defesas que exigem mais força do que só observar.

Penso, em certos momentos, que sou uma combinação perigosa: vivo na noite, sou ariana e escrevo cada detalhe da minha história. Tem pessoas que se repetem nas entrelinhas de praticamente toda a minha retórica, especialmente quando lembro de detalhes tão claros, ainda que distantes, mas que não saem da memória. Gosto de procurar pela mesma mulher nos lugares que chego, é um vício que penso “com o tempo, eu aprendo”, gesticulando meus pensamentos como quem sabe que uma hora ela vai chegar. Pessoas parecidas se atraem e se distanciam feito ímã, só depende do extremo com o qual se pretende jogar (eis o meu defeito: eu não sou de começar se não for para ver, no limite, no que vai dar).

Nessas andanças dos contos de bar, há uma silhueta que teima em todos eles entrar. Sou amante dos jogos enrustidos, mas deixo escrachada minha vontade. O bom das histórias do bar é que não há pretexto que não vale – uma música brasileira de composição de Chico Buarque. É o que ela gosta e, por isso, todo esse tempo é para onde minha vontade, por pura sintonia do destino, parece que gosta de ficar sem ter hora para voltar. 

 

THIANE ÁVILA.

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