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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

A virgem de Guadalupe

11/6/2022 - São Roque - SP

         Um dos símbolos mais fortes para união e, principalmente, idealização e objetivos, é a ideia religiosa. Quando bem estruturada, é também extremamente poderosa. Porque nela reside um sentimento e um ideal que transcendem, que levam para forças que estão além do materialismo e do mundanismo da política prática, comum. Quando muito, baseada em análises da realidade concreta. Tais coisas, embora precisem ser resolvidas, nunca foram deixando quase sempre os mesmos problemas abertos. Como pobreza, fome, desigualdade, sofrimento, morte e má organização social.

        Caso aja alguma força capaz de transcender, de mostrar algo além de tudo isso, ganhará força, pois será uma possível maneira de derrotar isto. No caso, uma imagem, representação e ideal que possam ir para além do conhecido, alcançando máxima força ideária. No caso do México, uma figura muito importante para sua história, cultura e movimentos políticos é a Virgem de Guadalupe, uma aparição da Virgem Maria no país.  

       Segundo relatos orais, teria aparecido primeiramente para alguns índios astecas, sua imagem ficando gravada. Ao longo da história do país, esteve muito presente na cultura e aspectos da política. Vários países cristãos, especialmente os católicos, possuem uma aparição da Virgem registrada ou contada. Brasil tem Nossa Senhora Aparecida, Argentina a Virgem de Luján, Portugal Nossa Senhora de Fátima, Líbano Nossa Senhora de Harissa. E México a Virgem (ou Nossa Senhora) de Guadalupe. Neles, há sempre uma forte questão cultural e religiosa, que assume diferentes formas e dimensões.

         Através dela, se embasaram muitos dos grandes processos políticos mexicanos. Na independência do país o principal nome do processo, padre Miguel Hidalgo, nela se inspirou e se guiou, tendo-a como seu grande símbolo. No seu grito de Dolores, que deu início para a libertação nacional disse: “Viva a independência, viva a Virgem de Guadalupe, morte ao mau governo.” Ali, além de seus estudos e ideais políticos, expressava fortemente o espírito e proteção dela. Apesar de ele, Hidalgo, não ter conseguido ver o México independente, pois fora executado pela inquisição colonial espanhola antes, inspirou todos os que continuaram. E conseguiram a independência política.

       Mais tarde, foi também um dos símbolos nacionais na luta contra a invasão francesa da década de 1860. E também, a partir de 1910, um dos símbolos dos revolucionários mexicanos, que derrubaram Porfírio Diaz e iniciaram um processo de justiça social no país. Levando, entre outras coisas, reforma agrária, nacionalização do petróleo e melhora em índices de vida. A proteção da Virgem e sua força foram fundamentais para este processo. Apesar de disputas e desentendimentos fortes com a Igreja, Zapatistas, Villistas, Maderistas, Carranzistas e outros, a Virgem e seus sentimentos estavam ali, fortes. Desde os tempos coloniais, teve sua força reconhecida. É a padroeira do México e do continente americano inteiro.     

       Como brasileiro, não possuo muito aproximação com a Virgem de Guadalupe, por não fazer muito parte de mim. Embora o Brasil faça parte daqueles em sua padroação. E me inspira bastante. Pela força que deu aos mexicanos em sua história e suas lutas. Pela significação e profundidade do seu ser e significados. Uma figura que une, trazendo significação profunda e valor. Sem dúvida, uma das aparições mais poderosas e belas surgidas. Quando está próxima, há uma força para se conduzir em direção ao melhor e ao justo. Um interessante lado para os problemas humanos.

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