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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Thomas Bridges e Charles Darwin: o cientificismo no século XIX

12/11/2022 - São Roque - SP

    Durante o século XIX, quando a maioria dos paradigmas, conhecimentos e bases da idade contemporânea foram embasados e solidificados, alguns debates e ideias ficaram um pouco obscuros, mas ainda precisam ser lembrados e vistos. O principal ponto a ser levantando são as bases e os limites do cientificismo, o quanto estes continua falando para hoje. Tal debate ainda é bastante forte, sobretudo quando se levanta questões do racismo científico que tanto impregnou o pensamento do século XIX.

    Mas, ainda dentro, disto, entram várias questões das bases científicas e, especialmente, suas relações com projetos de poder e políticos. Uma figura pouca lembrada, mas de grande relevância, é o missionário anglicano Thomas Bridges. Inglês, desde a adolescência viveu nas Ilhas Malvinas, como alguém a se tornar um missionário anglicano, que poderia ajudar a Inglaterra a conseguir território na América do Sul. Várias vezes haviam tentado, mas sempre foram expulsos pelos indígenas da região da Terra do Fogo.

     Já na época em que havia um domínio britânico no extremo sul do continente, passou o navio HMS Beagle, onde Charles Darwin estava a bordo. Vinham juntos alguns índios fueguinos, levados a Londres para aprender a “civilização”. Tinham hábitos ingleses, mas voltaram aos originais quando estavam em suas terras. Darwin passou um tempo na Terra do Fogo, estudando os animais, juntando material para sua obra “A origem das espécies”, e convivendo com os missionários anglicanos e os índios. Tinha uma série de dúvidas quanto ao “estágio evolutivo dos índios” e se de fato eram seres humanos. O que Thomas Bridges não duvidado e vendo todos como filhos de Deus.

      Depois que o naturalista saiu da região, continuou suas pesquisas e, mais tarde, se comunicou com o missionário. Perguntava sobre como eram os índios fueguinos fazendo, entre outras perguntas, se expressavam emoção ou raiva da mesma maneira que brancos, e se quando estavam fora de si faziam os mesmos gestos que os brancos. Perguntara ainda quais as visões de beleza feminina tinham os fueguinos: se as que tinham forte aspecto americano local ou as europeias. Bridges respondera que sim, evidenciando a proximidade e humanidade deles, as quais Darwin duvidava. Quanto a mulheres, Bridges respondeu que viam como bonitas as europeias mais próximas da “raça caucasiana”.

       A se ver este pequeno debate entre um missionário e um naturalista, vemos alguns pontos ainda importantes de serem pensados acerca do cientificismo moderno. Que se embasava em humanos e não humanos, enquanto religiões viam em todos os tipos seres humanas. Religião conseguia ver coisas da organização social e mesmo de questões humanas mais profundas, como seus hábitos e formas de vida. Pelo século XIX, Thomas Bridges mostrava algumas proposições e conhecimentos que a ciência ainda demoraria um pouco para reconhecer e legitimar por completo. Mais um ponto de debate sobre o que é ciência, religião e o que cada enxerga.  

 
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