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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Adam Smith e a moralidade

8/1/2023 - São Roque - SP

  Dentro do campo moral, Adam Smith se revelou um dos mais originais e atentos pensadores já existentes. Sendo um filósofo do século XVIII, bebe ainda muito do pensamento contratualista de autores como Hobbes, Locke e Rousseau. Um pouco também de Cesare Beccaria. Compartilha com estes autores, ainda que de uma forma ligeiramente diferente, a oposição estado de natureza e estado de sociedade. Pois ainda existe um ser humano que vive de maneira natural, seguindo as leis da natureza em contraste com um que seria domesticado, civilizado, que é o que conhecemos hoje, e já naquela época.

  Para Smith, já há menos diferença entre o chamado estado de natureza para o estado civilizacional. O ponto fundamental, em ambos os casos, é que o ser humano é essencialmente egoísta, movido pelos próprios interesses. Nenhum outro fator move mais as pessoas senão seus interesses. Neste sentido, tudo que as pessoas fazem está relacionado ao que querem e buscam. Isto atinge um nível filosófico bastante grande também, na medida em que o que cada um quer o move, o faz estar presente na vida, levando a todas as outras coisas.

   Em muitos sentidos, Adam Smith encontra convergência com Thomas Hobbes, principalmente na questão da ideia do ser humano como um ser egoísta, movido por aquilo que deseja. Neste sentido, ambos entendem que a sociedade precisa estar de alguma forma, condicionada a fazer os humanos se organizarem pelo egoísmo. A diferença surge, um pouco, na concepção do estado de natureza.

   Para Hobbes o estado de natureza não é senão guerra de todos contra todos, com seres humanos que não podem unir interesses ou sentir compaixão um pelos outros. Já Smith não vê necessariamente a instauração de uma guerra coletiva, embora não renegue a possibilidade. O interesse humano, ao invés disto, poderia se fundir entre indivíduos, apoiados mutuamente. O que um indivíduo busca poderia convergir com interesse de outro, causando uma ligação e uma troca de interesses. Também os humanos seriam capazes de compaixão e empatia para com os outros, amenizando o estado de guerra e criando uma sociedade de uso de interesses por partes dos indivíduos.

  Em ambos os autores o estado sendo constituído pela necessidade humana de se organizar socialmente, produzindo a capacidade para os cidadãos viverem. Em Smith, há a garantia dos direitos fundamentais. E em Hobbes, um freio para a violenta natureza humana. Para os dois, sendo o egoísmo a base da ação humana, somente a organizando se consegue ter uma sociedade com solidez e durabilidade. Logo, baseado neles, se vê que o ser humano só consegue se organizar socialmente quando tem uma força que o organize ao mesmo tempo em que é instrumentalizado seus interesses. Assim, o ser humano consegue governar a si mesmo.           

 
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