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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Brasília invadida

15/1/2023 - São Roque - SP

    As tensões sociais acumuladas tiveram seu ápice em 08/01/2023. Após anos de intenso discurso insuflado, o bolsonarismo atingiu seu momento mais alto. Sempre apostando na ideia de desconfiança e descredibilidade das instituições democráticas, repetidamente atacando e incentivando ataques a diversa delas, em especial o STF, tornou este processo físico. Após tentativas de golpe frustradas em seu governo, a mais marcante em 2021, Bolsonaro deixou o cargo. Porém, com um grupo muito fortemente ligado as suas ideias e, especialmente, ao antipetismo.

     Para amparar este tom inflamado, o bolsonarismo se valeu de uma gama de ideias e de posturas que foram comuns nos últimos anos, tendo se iniciado no governo Temer. Iniciou-se em tons e formas mais brandas, visando à eleição de um liberal no estilo do PSDB ou do Novo. Porém não foi comprado o tom polido desta direita, levando a uma radicalização do discurso, que encontrou seu símbolo no então deputado federal Jair Messias Bolsonaro.

    Um deputado já antigo, com quase nenhum projeto aprovado, mas famoso em alguns programas de TV e na direita viúva da ditadura. Inclusive, um dos momentos mais marcantes do deputado foi o elogio ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, durante a derrubada de Dilma. Que, entre muitas outras pessoas, torturara a ex presidenta ao longo da ditadura militar. Este foi o tom adotado pelo futuro presidente, ancorado em parte de seu eleitorado. Durante o resto de o governo Temer e em sua primeira campanha presidencial, foi este o tom adotado pelo candidato. Venceu a eleição, não apenas pelo tom usado, mas por se apoiar muito no antipetismo, sua principal força eleitoral.

     Durante seus quatro anos de mandato, manteve este tom, embora em muitos momentos tenha tido de diminuir para lidar com a política em seus aspectos densos. Tentou algumas tentativas de golpe, sem apoio do exército, entretanto, frustrando seus planos. Em dois setes de setembro, organizou sistematicamente manifestações contra o STF, atacando a instituição. Assim, manteve seu tom de ataque.

     Ainda que boa parte de seu eleitorado não seja violento, os que são ficaram com uma marca muito profunda das ações e discursos do ex presidente. E, muito por ele incentivado, foi crescendo a ideia de dar um golpe de estado. Também muito amparado em extensa gama de fake news políticas e de diversos outros assuntos, notadamente os de caráter moral. Também sistematicamente atacando as urnas eleitorais, conseguiu assim uma retórica para seu jeito.

      Sabendo que sua força e vitória seriam praticamente impossível um golpe, se afastou do tom, especialmente após a vitória eleitoral de Lula. Antes do fim do mandato, foi para os EUA, ficar longe das tensões que viriam. E vieram. O ápice do processo cultivado nestes últimos foi o ataque ao Palácio do Planalto, STF e PGR. Ali o bolsonarismo raiz mostrou sua face e fez seu ato mais forte, fora do governo Bolsonaro.

    O resultado foi então a invasão de Brasília, bastante semelhante a invasão do capitólio americano, após a vitória de Joe Biden. Ambos os roteiros políticos são bastante parecidos. E seu clímax é um ataque direto as instituições, e ao país por consequência. Porém, como todo roteiro, após o clímax o tom só pode ficar abaixo, levando a uma conclusão. E nisto a política se redesenhará. Jair Bolsonaro, provavelmente, já é morto em termos eleitorais. Mas a oposição irá precisar encontrar uma nova figura para se opor a Lula. E conseguirá. Resta saber se usará o mesmo tom bolsonarista ou fará em outro estilo. Também se continuará o clima de instabilidade política, com ameaças e insinuações de golpe em Brasília.   

 
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