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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Literatura panfletária

22/1/2023 - São Roque - SP

    Entre suas muitas funções e poderes, uma das possibilidades literárias seria o que se passou a se chamar de panfleto, ou literatura panfletária. O conceito se ancora diretamente nos panfletos políticos, o que eles fazem. Pois este se trata de uma rápida e persuasiva propaganda para se divulgar uma ideia política e convencer as pessoas a seguirem-na. Diversas ideologias fazem isso, para conduzir a seus respectivos fins e realidades. A imagem clássica do panfleto sendo um papel com divulgação política, a visão literária poderia, em certa forma, ser assim sintetizada.

     Pois a obra panfletária seria também uma divulgação de ideias, para difundi-las e convencê-las. A diferença é que, sendo o panfleto um pequeno papel, a obra poderia por isto em termos mais longos, criar personagens, cativar o leitor e trazer outros pontos. Mas ainda estaria ligada a noção de se propagar ideias. Assim, se colocaria de maneira completa a política defendida e o que a sociedade se tornaria com ela. Ou o que a sociedade era e precisava de transformação.

      Em muitos sentidos, esta ideia foi criada posteriormente ao surgimento dos livros que assim foram enquadrados. Pois não existia esta noção de literatura panfletária. Mas sim obras de ficção escritas para divulgar ideias. Bebiam muito do realismo e naturalismo do século XIX, que eram escolas literárias voltadas para falar do mundo da maneira como ele era e o que precisaria ser feito. Com o crescimento, principalmente, do marxismo e dos ideais socialistas, se criou um novo formato em cima desta literatura. Sendo, essencialmente, uma forma de arte que deveria explorar literariamente as contradições, desigualdades e injustiças do capitalismo, a fim de criar personagens sofrendo com isto. Uma vez assim feito, o leitor entenderia o processo socialista e conseguiria se engajar.

    Importantes autores surgiram desta escola, principalmente russos e soviéticos, que influenciaram muitos de outros países. Dos russos, podem ser destacados Maksim Gorki e Vladimir Maiakovski, o poeta da revolução. Em outros países, autores também importantes surgiram. Como Bertolt Brecht, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Dyonélio Machado e, embora com algumas diferenças, John Steinbeck. Mais tarde, se identificou nestes autores certo panfletarismo no sentido de, sendo obras escritas sobre o social, divulgavam ideias socialistas como seu ponto central. No caso, o realismo soviético e as orientações socialistas foram de fato a corrente que mais rendeu literatura a respeito, com muitos autores refletindo sobre o tema. E que continuam relevantes até os dias de hoje.  Autores de outras vertentes panfletárias não sobreviveram ao tempo.

     A ideia de literatura panfletária já foi muito discutida, pois pode desconsiderar diversos fatores literários. O primeiro é a própria amplitude da literatura, que ultrapassa e muito que se conhece. Então um autor, mesmo com intenções abertamente panfletárias, cria vai muito além do que ele ou quem lê sabe, chegando a esferas muito grandes, indo além da denúncia social. E a literatura consegue ultrapassar tais limites, sendo ainda a maior expressão humana perante o universo, a existência desconhecida. Autores e suas obras cabem em textos panfletários, podendo ser bastante úteis. Mas sempre colocam mais coisas do que pensam e acham. Os autores panfletários mantém sua força enquanto artistas, inspirando e nos fazendo ver até hoje o apontado. E tudo que já pensaram e colocaram.

 
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