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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

João Cabral de Melo Neto

5/2/2023 - São Roque - SP

        O poeta pernambucano marcou a história da poesia a partir de um novo estilo que passou a usar, fazendo outra ideia e forma da poesia. Nela, se havia um abandono do subjetivismo, focando em aspectos que também levantam a poesia, mas com base diferente, causando um sentimento diferente. Pois o principal ponto estaria em levantar imagens e visões que poderiam causar sentimentos no leitor diversos do prazer e do subjetivismo lírico, normalmente associados com a poesia.

        Um dos pontos básicos para isto seria a ideia de que a poesia não embalaria o leitor, não o levaria a um embalo poético que o fizesse se perder subjetivamente ou sentir os prazeres daquelas palavras. Mas sim teria de pensar e sentir cada uma das palavras em sua aspereza. Um dos poemas que quase chega a ilustrar esta premissa é “A palo seco”, onde discorre e disseca sobre o cantar sem som e sem instrumentos. Em um sentido forte, o poeta levanta sobre escrever e falar de maneira áspera, sem os adornos, sentindo como uma canção seca. Assim a poesia deveria atingir o leitor.

       Para atingir este aspecto, buscou se distanciar sempre do lirismo poético, querendo atingir a poesia por outras vias. Não chegava a se considerar um anti poeta, como assim se considerava Nicanor Parra, por exemplo. Nesse conceito, se buscava se afastar de certa poesia mansa ou presa a subjetivismos vazios. Assim, ao contrário, a poesia seria algo forte e marcante, capaz de atingir aquilo que não poderia ser dito de outra forma, marcando e pegando as pessoas. Embora Nicanor Parra visse nisso o oposto do poético, por isso se considerava anti poeta, pois seus versos combateriam a poesia. Ao passo que João Cabral ainda via nisso uma poesia, mas uma diferente, a qual teria outras formas de ser poética, atingindo sua forma e potência, mexendo ainda mais com o leitor.

        João Cabral identificou magistralmente este aspecto da poesia. Em seus poemas, mesmo com toda sua aspereza, se sente a veia poética, colocando e desenhando situações sob o viés poético. Em seu livro mais famoso “Morte e vida Severina”, retomando o tema do retirante, constrói o personagem Severino de Maria, um nome que diz pouco. E se acompanha sua trajetória, tudo que passa e sente, com o viés áspero e duro do poeta, garantindo que se veja poesia, mas de maneira dura, provocando sentimentos poéticos diferentes na leitura. Assim João Cabral legou a lírica uma maneira de se encarar o mundo poeticamente através de suas asperezas. 

 
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