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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

O homem que criou a república brasileira

5/3/2023 - São Roque - SP

    Embora quem tenha proclamado a república brasileira tenha sido o Marechal Deodoro da Fonseca, não se pode enxergar nele um modelo de república consolidada, que fosse republicana. Pois, além de ter verdadeira aversão pela república, sendo essencialmente um monarquista, não carregava consigo um modelo verdadeiramente republicano, com estruturas políticas de república. A estrutura política buscava se modificar para viver sob o presidencialismo, mas ainda tinha muito pouca base e não conseguia se moldar dentro da realidade brasileira. Tanto que os dois primeiros presidentes foram militares, Deodoro e Floriano. Depois se houve uma série de presidentes ou civis, como Nilo Peçanha ou militares exercendo papéis civilmente, como Hermes da Fonseca.  

    Porém, no modelo republicano brasileiro, uma figura hoje um tanto esquecida, mas importantíssima surgiu. Que de fato absorveu vários dos preceitos republicanos e os pôs em prática com seu conhecimento. Não conseguiu fazer uma aplicação completa, por causa das estruturas estaduais e nacionais, mas de fato instaurou um modelo que se tornaria nacional. Trata-se do presidente do estado do Rio Grande do Sul, Júlio Prates de Castilhos, homem fortemente comtista e de inspiração republicana positivista.

    Baseado no positivismo do filósofo francês, a partir do Rio Grande do Sul, pensou um modelo de estado republicano, científico e atento a si e aos problemas da população, que seriam um problema ao próprio estado e país. Dessa maneira, passou a década de 1880 defendendo a proclamação da república, como um modelo de governança em que seria possível aplicar tais medidas. Também apoiando a proclamação da república e Deodoro em 1889. Após este processo, conseguiu assumir a presidência do estado, sob forte oposição, enfrentando mesmo guerra civil. Seu lado os pica paus, republicanos, enfrentavam os maragatos, monarquistas. O principal opositor era um velho político do Império brasileiro, Gaspar Silveira Martins.

   Neste contexto, incluindo períodos de violentas degolas, Castilhos consegue permanecer no poder, elaborando quase sozinho a Constituição estadual, dando aspectos positivistas e republicanos a ela. Dessa maneira cria um estado essencialmente positivista, muito marcado pela proximidade com a ideia de republica. Ao sair do poder, em 1898, deixou Borges de Medeiros no lugar. Que foi bastante autoritário, ficando até 1928. Não tinha nem perto do talento político de Júlio de Castilhos, além de ser autoritário, mas, ainda assim, conseguiu manter o modelo castilhista em voga no estado.

  Em âmbito nacional, tal modelo chegaria através de Getúlio Vargas, em 1930. Tal revolução trouxe uma modificação e uma guinada radical na república brasileira, trazendo novos modelos e formas de se governar. De certa forma, as ideias mais estruturais da república entraram ali, ainda que de maneira problemática e trôpega. Assim, passou a se ter uma república mais bem estruturada, ainda que enfrente problemas. Que permanece até hoje, com várias mudanças, mas preservando muito de sua estrutura. A república brasileira, em sua essência e forma, ainda bebe muito de Júlio de Castilhos e Getúlio Vargas, com fonte nas ideias do primeiro.

    Com isso, vemos o quanto o modelo político brasileiro, que é problemático, mas possui abertura democrática, foi marcado por Castilhos e seus pensamentos. Muito da maneira como o estado é organizado vem dele, através de um modelo que melhorava diversos problemas, vícios e um afastamento do povo ocorrido na monarquia brasileira. Assim o Brasil conseguiu uma grande melhora, criando sua república.  Ao fim de questões, assim vem à república, criada por Júlio de Castilhos. Muito precisa melhorar, mas sem isto ainda não teríamos vencido diversos problemas brasileiros.  

 
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