ColunistasCOLUNISTAS

Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Dostoievski e ocidente

26/3/2023 - São Roque - SP

   Autor dos mais consagrados e adorados pelos leitores é o russo Fiodor Dostoievski. O escritor marcou profundamente a literatura com seu estilo, sua profundidade e a inacreditável força de seus personagens e histórias. O que o levou a ser um escritor com um nível de consagração que apenas aqueles que chegam a tal fundo conseguem. Suas obras continuam sendo capazes de mexer com os seres humanos e, especialmente, com os escritores. Sejam escritores policiais ou literários mais loucos, buscando outras formas de expressão. Principalmente em sua obra prima, Crime e Castigo.

   O autor foi um russo bastante tradicionalista, bastante voltado à cultura russa e suas formas, incluindo o czarismo. Passou por várias metamorfoses pessoais e políticas, sendo deste socialista e ateu, até um monarquista cristão ortodoxo russo. Foi um grande devoto da Igreja Russa, vendo em Cristo um ponto máximo. Como alguém bastante ligado a Rússia, teve uma forte antipatia pelo ocidente, suas críticas passando pelo político, pelo moral e pelo religioso. Essencialmente, Dostoievski via no ocidente um mundo corrupto, imoral e hipócrita, que praticava o mau. Caso este não pudesse ser recuperado, a Rússia precisava, ao menos, se manter a salvo disto, com seu cristianismo ortodoxo e sua cultura. Havia, portanto em Dostoievski uma postura bastante negativa quanto aos defeitos e vícios ocidentais, bem quanto a suas hipocrisias.

    Porém, todo esse caminho, tinha uma mão dupla. Pois, se Dostoievski era bastante antipático ao ocidente, não deixava de ser um forte consumidor de cultura ocidental, especialmente literária. Muitas de suas influências eram ocidentais, tais como George Sand, Balzac, Shakespeare, Victor Hugo, Kant, Edgar Allan Poe e outros autores admirados pelo gênio russo. Seu livro favorito, o qual considerava o ponto máximo da escrita, era Dom Quixote de La Mancha, de Cervantes, autor espanhol. Também um ocidental. Tanto que seu personagem príncipe Michkin, era uma fusão de Dom Quixote e Cristo, especialmente na grande bondade e pureza de espírito de ambos.

     Ao mesmo tempo, nutria um profundo respeito e influência pelos autores russos, tais como Lermóntov, Gogol, Tchernichevski e Pushkin, este último considerado o autor que deu uma identidade própria para a literatura russa, dando-lhe um estilo próprio. Fiodor Dostoievski tinha por eles uma relação bastante profunda, que fazia a Rússia ser Rússia, dando-lhe mais força. Ficava também influenciado pelos ocidentais, apesar de sua antipatia, mas sabia reconhecer o que era russo e quais as características do país e cultura. Nisso, se garantia uma grande força, capaz de melhorar sua escrita, e saber quais pontos atingir.

       Apesar de não admirar o ocidente, o autor foi extremamente influente nesta parte do planeta, sendo um ponto de referência fundamental para a cultura ocidental, a qual não existiria como esse existe hoje sem as obras de Dostoievski. É inconcebível pensar a literatura ocidental no século XX sem a influência do grande autor russo. Quase todos seus autores beberam desta influência. De Virginia Woolf, Thomas Mann, William Faulkner, Graciliano Ramos, Albert Camus, Robert Musil e tantos outros. E isto não se restringiu ao campo literário ou mesmo artístico. Não haveria Freud sem Dostoievski, pois muito de suas ideias e da psicanálise vem de Fiodor Dostoievski e de suas agudas observações psicológicas feitas em seus romances.

    Mesmo com toda sua aversão, foi alguém profundamente influente ao ocidente, dando um legado inegável e inestimável para o último. Foi assim alguém grande, que soube expressar o melhor literariamente e atingir um nível de força de poucos capazes. Sabendo valorizar de onde era e sua cultura, conseguiu criar uma literatura forte, que chegou a vários espaços. Mesmo com sua postura, foi altamente influente e influenciado. E o gênio Dostoievski expôs muito da psique a partir da Rússia, marcando seu tempo e muito do posterior também. O tempo atual ainda o lê. Sua postura lhe deu a força de se valorizar culturalmente, sendo assim muito mais rico culturalmente, deixando seu legado literário.      

 

 
Compartilhe no Whatsapp