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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Euclides da Cunha

4/6/2023 - São Roque - SP

     Este é um dos autores que mudou a literatura brasileira, trouxe novos paradigmas e bases para a arte literária brasileira. Com ele, há mais dois nesta categoria, Machado de Assis e Guimarães Rosa. Se Machado foi quem deu as bases, formas e visões mais ontológicas, mais características do jeito brasileiro de escrever, Euclides e Guimarães trouxeram um cenário, uma parte do Brasil que se entrosaria muito com a identidade nacional e se tornaria um dos espaços brasileiros que até hoje nos faz pensar muito o Brasil: o sertão. Este cenário, que teve em Guimarães Rosa um ápice e uma força literária inigualável, expressa em “Grande Sertão: Veredas” foi essencialmente descoberto por Euclides da Cunha, na década de 1890.

      Ao cobrir e registrar a campanha de Canudos, Euclides viu a olho nu uma realidade brasileira até já conhecida, mas ainda não entendida e captada em sua essência. Que é a realidade do sertão e do interior do país, que carregava grandes contrastes com o Brasil próximo ao litoral, até então o mais conhecido e visto dos brasileiros. Ao perceber isto, Euclides da Cunha percebe esta grande diferença entre os dois espaços brasileiros, e a questão direta das realidades enfrentadas. Euclides também conheceu e viram os tipos sertanejos, as pessoas que lá viviam o que enfrentavam. Tais conclusões e o relato do enfrentamento entre Canudos e o governo federal foram registrados e serviram de base para “Os sertões”, sua obra mais aclamada, publicada em 1902.

       Com ela, Euclides revelou ao Brasil uma face oculta que se tornaria conhecida. Porque, se já havia muita pobreza e desigualdade conhecida culturalmente nas grandes cidades, como no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre ou Recife, pouco ainda se falava e se sabia da pobreza e desigualdades no sertão, aonde aumentavam os problemas por ter ainda menos infra-estrutura. E que criava uma realidade política, sociológica e mesmo antropológica diferente do Brasil urbano e litorâneo. Isto também tomava uma dimensão de aspectos culturais, pois esta descoberta euclidiana influenciou profundamente as artes e literatura, renascendo uma tendência de falar sobre tipos sociais brasileiros, agora em tons mais realistas ou próximos a realidade. Desde José de Alencar, não se buscava, com suas respectivas diferenças, falar sobre os tipos brasileiros de diversas regiões.

        Mais do que isso, impresso em “Os sertões” Euclides foi sim um sociólogo bastante atento e sensível para as características e realidades da América.  Porque tinha uma visão que entendia suas estruturas e sua cultura política, bem como os rumos e coisas que fazia. Têm-se diversos problemas com questões do cientificismo da época, ainda preserva uma visão sociológica muito forte daquilo que existia e ainda existem de problemas no Brasil e no resto da América. Em outros sentidos, do mundo também. E percebendo estas questões, foi muito influente para a sociologia e literatura brasileira, fazendo uma mescla inigualável entre elas. Que ainda nos fazem ver o sertão e pensar o Brasil. Mesmo com suas questões de cientificismo datado, Euclides da Cunha continua sendo um autor com um profundo entendimento do Brasil e seus problemas.

 
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