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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Durkheim no fundo da grota

9/7/2023 - São Roque - SP

     A sociologia sempre esteve sutilmente presente em diversas manifestações. Pois, sendo a ciência que estuda as relações sociais, tem como objeto algo do mais inerente e sempre presente nas sociedades. Sendo o homem um animal político, como colocou Aristóteles, vive em sociedade. E nela cria suas relações. Que tem ramos familiares, profissionais, sociais, políticos, religiosos, de poder e outros. Ao longo da história, diferentes relações sociais existiram, em diferentes locais. E sua existência foi percebida e colocada em pontos diversos, muitas vezes na arte. Se a sociologia, como ciência formal surgiu no século XIX, suas manifestações foram difusamente presentes antes e depois.

    No caso da música “Do fundo da Grota”, do Baitaca, há questões fortemente da sociologia de Durkheim nela. Pois está presente a questão do lugar, de onde se vive e se absorve as características e cultura daquele lugar.  O que fica muito visível no começo da letra, que diz “Fui criado na campanha/ em rancho de barro e capim/ por isso que eu canto assim”. Aqui fica mostrado onde foi criado, e o que se tornou. Em outros termos, se tem a descrição de uma vida, onde foi feita e a base. Tendo sido criado lá, canta daquela maneira.

    Tal ideia em si é bastante durkheiniana, pois traz consigo a ideia de se ser de um lugar e adquirir as características e jeitos de lá. Pois, sendo dali, tua vida, conhecimentos, saberes e, muito especialmente as vivências e experiências, dizem respeito sobre lá e aquela maneira de viver. Estão presentes instituições, fatos sociais e diversas organizações que exercem diretamente esta influência. Também de maneira coercitiva, pois sendo a vida daquela maneira naquele espaço, não pode ser diferente. O indivíduo que não for daquela maneira, por não se adaptar, não conseguirá viver. Essencialmente, tal processo ocorre de forma sutil e mesmo orgânica. Crescendo ali, com aquela forma de vida, a ela se adapta, a ela se entende.

     Tal processo é, por definição, um processo sociológico de onde vem a formação não só dos indivíduos, mas das sociedades. É uma coletividade e uma coesão que se forma, colocando os humanos dali presentes neste mesmo processo. Pois se está vivendo ali e absorvendo suas características. O que forma de maneira decisiva e profunda cada um desses indivíduos. E que foi muito bem expresso por Baitaca em “Do fundo da grota”. Não apenas nos primeiros versos, mas também na música como um todo. Pois, falando dos costumes campeiros e de como faz a vida, ele continua dando vários aspectos daquele local e descrevendo esta vida. Explicando como se vive nas Missões e na campanha gaúcha.

     Fazendo isto, Baitaca descreve como se vive ali. Por consequência, está falando daquela vida, seus fatos sociais e sua forma de viver.  Não é uma música abertamente sociológica, mas traz diversos aspectos da sociologia, difusos e sutis na letra. Descrevendo os ramos em que o gaúcho se relaciona e como vive. As relações gauchescas e o próprio tipo gauchesco campeiro estão descritos, especialmente o campeio de hoje em dia. Que vive e trabalha nas estâncias, adquirindo sua cultura e relações sociais. Os primeiros versos sintetizam muito bem como é o indivíduo em Durkheim. E mostra a sabedoria popular, a sensibilidade para perceber as coisas acontecendo e poetizar. O que faz com ali sejam percebidos e descritos aspectos sociais reais e profundos, mesclados com aquela forma de vida. Se descreve e vive, trazendo novos aspectos e fatos.   

 
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